quarta-feira, 14 de junho de 2017

Cooperativismo



Órgãos não pesquisam cafezais do Oeste da Bahia, diz Marcos Alvarenga


Por Camila Cechinel

No Oeste da Bahia, região conhecida como "paraíso dos insetos", produtores sofrem com os ataques severos do bicho-mineiro, cuja principal consequência para a lavoura é de que as plantas perdem áreas consideráveis das folhas, tornando-as mais fracas e comprometendo a safra. Apesar de atualmente os agricultores estarem sabendo lidar com a praga, entre novembro e dezembro do ano passado houve proliferação em algumas propriedades, devido às condições climáticas favoráveis. 

Foto: Lucas Albin Agência Ophelia
                                  Foto: Lucas Albin Agência Ophelia 

De acordo com o Assistente Técnico de Café da Cooperativa Agropecuária do Oeste da Bahia (Cooproeste), Marcos Alvarenga, órgãos de pesquisa não investem em estudos sobre os cafezais do local, forçando os agricultores, junto com assistências técnicas, viabilizar o manejo de pragas e doenças. 

"Não temos pesquisas voltadas para o Oeste da Bahia. Teoricamente nossa área é pequena para a importância da cafeicultura nacional. Os produtores têm trocado informações para amenizar o ataque, mas isso aumenta o custo, com o uso de produtos específicos", disse Alvarenga em entrevista, por telefone, ao site Notícias Agrícolas

Apesar disso, e com a ajuda do controle preventivo, cerca de 50% da safra 2017/2018 de café arábica já foi colhida na região, uma vez que as chuvas estão regulares, não atrapalhando o andamento da colheita. Com um cenário bastante diferente de 2016 e cafés ganhando peso, há a expectativa que a safra corrente seja melhor que o esperado. 

"Na safra passada sofremos muito com rendimento, com produtores gastando, em média, 600 litros de café para fazer uma saca de 60 kg. Este ano, 480 litros fazem um saca. Estamos voltando a normalidade", comentou. 

No Oeste da Bahia, cerca de 13 mil hectares são cultivados. O café está presente em quatro municípios, sendo os mais importantes Barreiras, responsável por 41% dessa área plantada, e Luís Eduardo Magalhães, com 23%. "A região é bem extensa e uma propriedade é distante da outra. Tivemos muita florada, resultando em cafés diferentes que dificultaram o rendimento da colheita", disse o assessor, lembrando que o previsto, para o momento, era estar com 80% dos grãos retirados das plantações. 

Preços

Em relação aos valores das sacas de café nesta safra, Alvarenga afirma que elas devem ficar entre R$450,00 e R$460,00, preço próximo das demais regiões produtoras. Apesar de não ter, ainda, como prever a produtividade média, é esperado 35 sacas neste ciclo. 

"A margem é aparentemente baixa, mas é melhor do que ficar perdendo. A safra pendente, se ocorrer bem, vai ser bastante significativa, com média acima de 50 sacas por safra", finalizou. 

Assista a entrevista na íntegra:


Cooperativismo

Administração financeira em cooperativas: conjunção de aspectos econômicos e sociais



A administração das finanças de uma cooperativa envolve questões que vão além da busca pela rentabilidade e liquidez. Em sociedades de capital, esses elementos são de vital importância para garantia do sucesso do empreendimento, bem como em cooperativas. Entretanto, não basta que o negócio em si seja satisfatoriamente gerenciado, mas que seus integrantes usufruam dos benefícios gerados.

Nesse sentido, o administrador financeiro, em uma sociedade de pessoas, deve, além de garantir a sustentabilidade da organização, permitir que seus resultados possam, efetivamente, gerar crescimento às unidades administrativas individuais representadas pelos integrantes de seu quadro social.

Atendendo aos "clientes"

De acordo com o ramo da cooperativa, essa tarefa se torna ainda mais árdua. Nas de crédito, por exemplo, as principais receitas geradas são oriundas de taxas cobradas dos próprios associados, uma vez que, as mesmas não podem realizar operações de empréstimos/financiamentos com terceiros.

Assim, cabe à administração estipular políticas de precificação de ativos de forma a beneficiar seus "clientes" e, simultaneamente, garantir retornos adequados à estrutura de custos da instituição.

Por um lado, deve-se cobrar taxas de juros que proporcionem vantagens aos associados, ou seja, mais atrativas que as encontradas no mercado financeiro tradicional. Por outro, a entidade necessita acumular capital para disponibilizar maiores volumes de crédito e melhorar sua prestação de serviços.

Nas cooperativas de produção, embora os clientes não sejam, na prática da atividade comercial, seus proprietários, o dilema é semelhante. O quanto deve ser retido pela instituição para assegurar que o negócio progrida e o quanto deve ser repassado aos sócios? Gerar sobras expressivas, que poderão ser distribuídas ou mantidas como capital próprio, ou cobrar taxas apenas condizentes com a estrutura de custos?

Essas questões devem ser discutidas e a decisão a ser tomada passa pela análise dos elementos essenciais que compõem as finanças de uma cooperativa. É lógico que esse tipo de organização prima pela sua finalidade precípua de promoção do desenvolvimento econômico-social de seus integrantes.

Contudo, esse desenvolvimento não é pura e simplesmente alcançado com o repasse integral do resultado obtido. A própria prestação eficiente dos serviços disponibilizados pela cooperativa é meio para se chegar a tal objetivo.

Preservando a sustentabilidade do negócio

Nesse contexto, o negócio cooperativo deve ter condições de se auto-sustentar e de, atuando em mercados cada vez mais competitivos, enfrentar em condições satisfatórias seus mais diversos concorrentes.

Aliás, a concorrência não prima pelos mesmos princípios que regem o sistema cooperativista. Além disso, sua estrutura organizacional propicia maior agilidade no processo de decisão. 

Tudo isso faz com que seja essencial às cooperativas o processo de acumulação de capital, ou seja, que as mesmas possam fortalecer sua capacidade de investimento, sobretudo face às dificuldades de capitalização enfrentadas e já comentadas nesse espaço.

É por isso que cabe ao administrador financeiro buscar formas alternativas de garantir o desenvolvimento da instituição, em que pese o efeito adverso de, na visão de alguns, muitas vezes contrariar os princípios básicos do cooperativismo tradicional.

Ressalto o "na visão de alguns", pois há controvérsias sobre essa questão. Enquanto a adoção de práticas mais capitalistas no processo administrativo de uma cooperativa implica, de certa forma, em medidas severas na transação com cooperados, esse tipo de postura pode ser essencial para a sobrevivência da entidade.

Tratando os diferentes de forma diferente

Por exemplo, a diferenciação no pagamento aos associados por produtos com níveis de qualidade distintos pode ser entendida, a princípio, como discriminação em uma organização que prima pela prática democrática e igualitária.

Entretanto, tem como intuito garantir a colocação no mercado de produtos com elevado padrão de aceitação e confiabilidade por parte de seus consumidores. Além do mais, serve como estímulo para que os cooperados invistam, cada vez mais, na melhoria e eficiência de seus negócios.

Nesse ponto é que a cooperativa deve atuar para permitir que todo o quadro social tenha as mesmas condições de produzir bens com o nível de qualidade desejado. A assistência técnica, entre outras alternativas, deve ser priorizada e colocada à disposição de todos pela instituição, permitindo que o argumento da "discriminação" seja enfraquecido pelo oferecimento de meios para evitar a diferenciação no momento do pagamento pelos produtos entregues.

Essa é a função das cooperativas, permitir que os seus associados possam se desenvolver social e economicamente, e não praticar a distribuição de benefícios iguais àqueles que contribuem de forma diferenciada para a competitividade do empreendimento.

Nesse contexto, as finanças devem ser geridas de forma a garantir a continuidade sustentada do negócio cooperativo e, simultaneamente, contribuir para o crescimento dos negócios individuais dos cooperados, pois eles formam, em sua essência, a base sócio-econômica da instituição.

Enfim, o trabalho de administrar financeiramente esse tipo de sociedade de pessoas vai muito além daquele praticado em outras formas de organização. O conhecimento do cooperativismo e sua doutrina deve ser aliado à moderna gestão de valor para que os objetivos precípuos sejam alcançados da melhor forma.

A busca pelo equilíbrio financeiro deve ser orientada tanto pelo caráter social desse tipo de empreendimento quanto pela natureza econômica de suas atividades. Enquanto as cooperativas privilegiarem um dentre esses dois aspectos, muitos ainda serão os entraves ao seu desenvolvimento.

Logicamente, não é fácil conjugar essas duas características do cooperativismo no âmbito da administração financeira, entretanto, é de vital importância que se leve em consideração os vários elementos que as compõem.

Conclusão

Basear uma decisão de diferenciar ou não o pagamento por conta da qualidade do produto entregue em argumentos que privilegiem essa ou aquela temática é fechar os olhos às exigências de sobrevivência impostas pelo mercado ou não primar pelos preceitos enfatizados pela teoria e doutrina cooperativistas.

Essa decisão deve ser embasada na realidade prática do mercado em que atua a organização e, ao mesmo tempo, necessita ser acompanhada de medidas que permitam a todos os associados buscar padrões de excelência.

Mas esse é apenas um exemplo da dificuldade no processo de administração financeira enfrentada por um profissional ou pelo próprio corpo diretivo de uma cooperativa. Muitas outras decisões deverão ser baseadas em princípios sociais e econômicos que regem esse tipo de organização, sendo o equilíbrio entre os mesmos fator essencial para garantia do desenvolvimento sustentado.

https://www.cafepoint.com.br/radares-tecnicos/gerenciamento/administracao-financeira-em-cooperativas-conjuncao-de-aspectos-economicos-e-sociais-31724n.aspx