Crise na Flórida abre espaço para suco do Brasil
Pressionada pela progressiva queda do consumo global de suco de laranja
e seus reflexos negativos sobre os preços da commodity, a cadeia
citrícola paulista enxerga nos problemas estruturais que prejudicam a
produção da Flórida um impulso para o escoamento de suas vendas no médio
e longo prazos.
Particularmente nos últimos meses, tais adversidades, relacionadas a
questões climáticas, fitossanitárias e até imobiliárias, já têm
colaborado para sustentar as cotações internacionais da commodity. Mas a
expectativa é que esse suporte se solidifique na medida em que o
cenário de oferta menor ganhar contornos mais nítidos.
Conforme as projeções mais recentes do Departamento de Agricultura dos
EUA (USDA), a colheita de laranja na Flórida deverá alcançar 133,4
milhões de caixas de 40,8 quilos nesta temporada 2012/13, 9% menos que
em 2011/12. Desde o início do ciclo, em outubro, o USDA reduziu a
estimativa em 13%.
Isso porque os pomares do Estado sofreram com o tempo seco durante o
período de desenvolvimento dos frutos, condição que contribuiu para a
proliferação do greening, doença bacteriana de difícil controle também
presente no cinturão citrícola paulista.
Identificado há mais tempo por aqui, o greening motivou uma migração de
pomares do norte para o centro-sul do Estado de São Paulo, por questões
climáticas, e vem sendo combatido com mais eficiência do que na
Flórida, inclusive com a ampla erradicação de árvores infectadas.
Assim, a produção paulista tem permanecido firme nas últimas
temporadas. Nos ciclos 2011/12 e 2012/13, foram duas supersafras
consecutivas, que serviram para inflar os estoques de suco brasileiro e
limitar as curvas de valorização da commodity e dos preços recebidos
pelos produtores da fruta.
Em 2013/14, cuja colheita está em curso, citricultores e as grandes
indústrias de suco (Cutrale, Citrosuco /Citrovita e Louis Dreyfus
Commodities) preveem produção de cerca de 270 milhões de caixas em São
Paulo e no Triângulo Mineiro (onde as empresas também se abastecem de
matéria-prima), ante 380 milhões em 2012/13.
Houve um claro desestímulo econômico para a produção de laranja para a
fabricação de suco no Brasil em 2013/14, já que os gordos estoques
pressionam os preços pagos aos produtores da fruta para abaixo dos
custos de produção.
Mas, ainda que mais de dois mil citricultores - sobretudo de pequeno
porte - tenham deixado a atividade nos últimos anos em São Paulo,
conforme o Cepea/USP, não é possível afirmar que há no radar um nível
mais baixo de produção em consolidação, já que há avanços de grandes
produtores e das indústrias de suco.
No caso da Flórida, a curva descendente parece melhor delineada. A
ponto de Andres Padilla, analista do Rabobank radicado em São Paulo, já
projetar uma acomodação em torno das 100 milhões de caixas nos próximos
anos - espaço que, a julgar pela atual disposição das peças no tabuleiro
global, só poderá ser ocupado pelo Brasil.
Padilla ressalva que esse hiato que tende a ser criado na oferta
mundial de suco de laranja poderá não ser a salvação da lavoura, dado o
tamanho da produção paulista, mas certamente vai conferir fôlego extra à
cadeia no Brasil, que responde por mais de 80% das exportações globais
da commodity.
Anteriores à disseminação do greening, danos recorrentes provocados por
geadas e pelas temporadas de furacões já afetavam a citricultura na
Flórida - problemas que ajudaram o desenvolvimento da atividade no
Brasil nas últimas décadas -, onde a disputa por terras também está cada
vez mais acirrada.
"A Flórida é muito procurada pelos aposentados americanos, o que eleva o
custo da terra especialmente quando a economia melhora, como agora. Com
a incidência do greening no sul do Estado e as fortes geadas no
inverno, o espaço para a produção de laranja está ficando cada vez mais
limitado", afirma Padilla.
Segundo ele, dificilmente a Califórnia, forte na produção de laranja
para mesa, ocupará o espaço da Flórida na produção de matéria-prima para
a fabricação de suco nos EUA (ver gráficos). E em países como o México,
que tem potencial exportador, as escalas tendem a ser menores, mantendo
o terreno mais livre para o Brasil.
http://www.seagri.ba.gov.br/noticias.asp?qact=view¬id=27955