sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cooperativismo

Cooperativas de crédito brasileiras em expansão
                    
O patrimônio líquido das cooperativas de crédito brasileiras cresceu nos primeiros nove meses deste ano 16,5% em comparação com igual período do ano passado, enquanto o Sistema Financeiro Nacional crescia 7,5%. É uma boa notícia, mas nosso cooperativismo ainda é pouco representativo, pois se observa que na área financeira seus ativos não passam de R$ 98 bilhões, contra R$ 3 trilhões dos quatro maiores bancos do país.
Mas o setor vem avançando, como informou este jornal na edição de ontem. No período analisado, a carteira de depósitos das cooperativas de crédito aumentou 26%, contra 3,18% do sistema financeiro como um todo. Em cerca de 500 municípios brasileiros, cooperativa é a única instituição financeira existente. A tendência é a de que elas cresçam de importância, com a criação do fundo garantidor do cooperativismo, conforme anunciado recentemente pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
O governo tem incentivado a expansão do cooperativismo. Em Minas, Estado maior produtor de leite do país, a Secretaria da Fazenda repassa mensalmente todo o ICMS cobrado sobre a captação do leite pelas cooperativas. Para um entendimento do que isso significa, a Cooperprata, com sede em Lagoa da Prata, onde se localiza a Embaré, faturou no mês passado R$ 1 milhão e recebeu do governo de Minas R$ 120 mil (12% de crédito de ICMS). Essa cooperativa começou a funcionar em dezembro de 2009 e, até hoje, só tem uma funcionária que recebe salário de R$ 900 reais. Os honorários de toda a diretoria somam R$ 5 mil.
Não há empreguismo nem mordomia. Os R$ 120 mil são repassados aos cooperados, que receberam em novembro R$ 0,88 por litro de leite e não R$ 0,84 – o valor pago pelo comprador do leite produzido, a Embaré. O leite vai diretamente da fazenda para a fábrica, e o produtor não tem que pagar segundo percurso.
Em fevereiro de 2010, a Cooperprata captou 23 mil litros de leite por dia e recebeu do governo R$ 65 mil, no mês. Um ano e nove meses depois, o benefício praticamente dobrou de valor. O governo abre mão desse imposto, enquanto cobra 18% das empresas que compram leite de outros estados e até do exterior para vender aos mineiros. Ele faz bem em dar o incentivo às cooperativas, mas precisa ficar atento. O dinheiro público não deve sumir nos desvãos de alguma cooperativa pouco transparente, dirigida por aproveitadores. Precisa chegar aos cooperados e favorecer o desenvolvimento do Estado.

Fonte: Hoje em dia em 27/12/2012

Cooperativismo

COOPERATIVAS DO PR: Número de cooperados se aproxima de um milhão
 
 
COOPERATIVAS DO PR: Número de cooperados se aproxima de um milhãoAs 240 cooperativas paranaenses vinculadas ao Sistema Ocepar estão cooperativas parana encerrando 2012 com quase um milhão de cooperados. Atualmente são 900 mil, ou seja, praticamente o dobro do registrado há cinco anos.

Em 2007, o número de cooperados somava pouco mais de 450 mil. A expansão vem se acelerando especialmente nos últimos anos e está sendo puxada pelo ramo crédito, composto no Paraná por 65 cooperativas, que possuem aproximadamente 700 mil cooperados e unidades de atendimento em todo o Estado. Na sequência, vem o ramo agropecuário com 135 mil cooperados e o saúde, com 13 mil cooperados. “As cooperativas de crédito vêm democratizando o acesso aos recursos financeiros para milhares de pessoas por meio de sua capilaridade e forte vínculo com as ações locais e regionais. Além de oferecer produtos e serviços de qualidade, promovem a inclusão financeira, já que em muitos municípios são a única instituição financeira disponível para a comunidade”, afirma o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski. “Com certeza, este será o ramo que continuará crescendo de forma geométrica, propiciando alavancar investimentos de nossos setores produtivos”, acrescentou. Ele lembra ainda que as cooperativas de crédito estão superando os R$ 13 bilhões em ativos em 2012.

Postos de trabalho – De acordo com Koslovski, o cooperativismo paranaense também registra um aumento expressivo na abertura de novas oportunidades de empregos. “Até 2011, o setor era responsável pela geração de 1,5 milhão de postos de trabalho e neste ano houve um incremento de mais 100 mil vagas, graças à adesão de novos cooperados e colaboradores dentro do Sistema. Dessa forma, estamos gerando em torno de 1,6 milhão de postos de trabalho, dos quais 67 mil são empregos diretos”, frisou.

Movimentação econômica – Outro resultado comemorado pelas cooperativas do Paraná é a movimentação econômica recorde superior a R$ 37 bilhões que deverá ser atingida em 2012. Segundo o presidente da Ocepar, além do aprimoramento na gestão, o setor tem crescido com base em um trabalho intenso de formação, treinamento e capacitação de cooperados, dirigentes e colaboradores, desenvolvido com o apoio do Sistema Ocepar. Nos últimos cinco anos foram realizados 19.920 eventos de capacitação com 596.383 cooperativistas treinados em todo o Estado. Somente em 2012, foram quase 5.000 eventos com cerca de 140 mil pessoas capacitadas em todo o Estado, representando investimentos na ordem de R$ 25,6 milhões.

Outros investimentos – Já em melhoria da infraestrutura, ampliação das agroindústrias e inovação tecnológica, o setor cooperativista paranaense destinou mais de R$ 5,7 bilhões nos últimos cinco anos, “sempre visando garantir serviços de qualidade aos cooperados”, ressalta Koslovski. Em 2012, as cooperativas do Paraná investiram R$ 1,3 bilhão nessas áreas e a expectativa é de que no ano que vem o setor mantenha esse patamar de recursos aplicados.
Clique aqui e confira os números do cooperativismo paranaense

Fonte: Ocepar em 27/12/2012

Cooperativismo

COCARI: Avicultores impressionam pelo alto Índice de Eficiência Produtiva
                    
Na noite de 20 de dezembro, a Cocari realizou o II Encontro de Avicultores, com o objetivo de apresentar o Índice de Eficiência Produtiva (IEP) alcançado pelos avicultores integrados da cooperativa durante o ano de 2012. Os números impressionaram a diretoria e os produtores presentes no encontro. O IEP mais alto registrado no ano foi em junho, com índice de 389,60. A média do ano ficou entre 349,57 e 359,01, o que representa uma regularidade na eficiência produtiva das aves dos integrados.
COCARI: Avicultores impressionam pelo alto Índice de Eficiência ProdutivaSucesso com trabalho - “O único lugar em que sucesso vem antes de trabalho é no dicionário”, disse o presidente da Cocari, Vilmar Sebold, parafraseando o físico alemão Albert Einstein. “E quem cria frangos, quem trabalha nessa atividade sabe bem disso. Frango traz dignidade, distribuição de renda, traz possibilidade de que as pessoas, tanto os proprietários dos aviários quanto quem conduz, tenham vida digna. E isso passa sempre pelo princípio de ética, de seriedade e de responsabilidade”, salientou Sebold. “Temos, seguramente, um dos melhores índices de desempenho do Paraná e tenho que agradecer a vocês por acreditarem que é possível”, ressaltou, dirigindo-se aos avicultores.
Estímulo - Para o vice-presidente da cooperativa, Marcos Trintinalha, a ideia do evento é premiar os melhores para que os outros também se sintam estimulados a melhorar cada vez mais. “O granjeiro que recebe o prêmio se sente motivado a se dedicar mais na realização do trabalho. Já aqueles que não ganham se sentem desafiados a melhorar também. Todo mundo quer ser reconhecido pelo que faz. É uma forma de a gente buscar cada vez mais a melhoria em termos de resultado com o frango”, ressaltou.
Processo - “A Cocari está desenvolvendo o processo da maneira correta. Começamos lá atrás fazendo o projeto visando desenvolver a avicultura na região de forma diferenciada em relação ao que existia, com barracões climatizados. Temos a granja escola para treinar os integrados. Depois veio a fábrica de rações, com produção de excelente qualidade, que utiliza os melhores equipamentos que existem no mercado, o abatedouro também vai ser um dos melhores em tecnologia. Então, estamos cumprindo todo o processo para realmente ter o melhor frango, com a melhor qualidade, para que o mercado possa aceitar o nosso produto”, ponderou. 
O conjunto faz o diferencial - Na avaliação do gerente de Fomento Avícola da Cocari, Fábio Cordeiro, não é possível atribuir a uma ação isolada a conquista da eficiência produtiva pelos avicultores integrados. Segundo ele, a cooperativa trouxe para a região um sistema que não existia [o dark house] e o diferencial começou na base, desde a criação do Projeto Aves. “Hoje temos o abatedouro, a Fábrica de Rações para Aves que é modelo, o CTA [Centro de Treinamento Avícola]. Então, não é uma ação isolada. O conjunto da obra é que faz o diferencial”, esclareceu. “O ano foi complicado, mas nossos integrados aprenderam que é na dificuldade que se cresce e eles estão de parabéns pelos resultados”, disse o gerente de Fomento Avícola.
CTA: uma iniciativa inteligente - O palestrante convidado para falar aos produtores da Cocari, Ubirajara Roberto de Oliveira, é um profissional com vasta experiência no setor avícola, veterinário e criador de frango. Ele elogiou a estrutura e a condução dos aviários integrados da cooperativa. “Eu visitei por duas vezes os aviários no campo da Cocari e me surpreendi com a maneira com que a cooperativa planejou todo o processo. Uma coisa que a Cocari fez que me chamou muito a atenção é a granja de treinamento [CTA], e isso eu não conheço em nenhuma empresa”, destacou. “Ninguém pode dizer que não sabe como conduzir a granja. Eu trabalhei minha vida toda com avicultura, sou avicultor e isso que a Cocari fez é um diferencial enorme”, reforçou.
Concepção - “Os aviários da Cocari são muito bem concebidos e eu diria que, dentro do que existe hoje de melhor, de mais moderno é que a Cocari balizou o seu projeto”, disse. “Eu acho que o produtor ou tratador, parceiro, que passa por uma granja escola, tem bom treinamento. Lá tem um profissional que faz todos os procedimentos que precisam ser feitos e ensina o produtor. Então, ele sai dali efetivamente treinado. Quando ele estiver na granja dele, vai ter respostas, vai saber os porquês, vai conseguir sanar dúvidas do dia a dia. Esse foi um investimento que ninguém tinha pensado em fazer, foi uma iniciativa muito inteligente”, elogia.
Dedicação como palavra de ordem - Entre os integrados, a justificativa para os altos Índices de Eficiência Produtiva se resume em uma palavra: dedicação. A maioria está na atividade há menos de dois anos e, apesar de recente, o negócio prospera a olhos vistos. Antonio Gidione de Souza, parceiro de José da Silva Knupp, integrado da Cocari, antes era produtor de Stevia (planta utilizada na produção de adoçantes). Ele disse que há cerca de um ano foi convidado pelo produtor, passando a tomar conta do aviário. “E não me arrependo. Vale a pena”, garante. Ele conta o segredo de índices tão altos de IEP no aviário que conduz. “O segredo é a dedicação. Toda atividade tem contratempo, mas a dedicação e a atenção valem tudo. E não adianta entrar para a atividade porque fulano está ganhando muito, porque se a pessoa entrar para trabalhar com essa mentalidade e cruzar os braços, não vai conseguir chegar lá. Tem que ter vontade e dedicação”, acrescenta.
Maior média - Egídio Wilxesky está também há aproximadamente um ano na atividade e foi destaque no Encontro de Avicultores. Ele manteve durante todo o ano a maior média de IEP, com 359,01. “O trabalho foi muito bem feito, os veterinários são muito atenciosos e eu só tenho a agradecer a Cocari por tudo que tem feito por nós. A melhor coisa que aconteceu para nossas famílias foi a integração da Cocari”, reconhece. Ele trabalha com a esposa na condução da granja e acredita que é o olho do dono que engorda o frango, assim como acontece com o boi. “A gente mantém tudo limpo e organizado. O veterinário orienta e a gente segue à risca as determinações”. E concorda com o colega: “O segredo do sucesso é a dedicação”.
Melhor IEP mensal dos integrados da Cocari em 2012 - O desempenho dos integrados foi avaliado mês a mês durante um ano, no período de dezembro de 2011 a novembro de 2012, sendo que os 12 melhores IEPs receberam certificados, em nome dos granjeiros. A premiação começou por dezembro de 2011, quando José Afonso Couto apresentou o melhor resultado, com IEP de 363,85. Em janeiro de 2012, o melhor IEP foi de Zenildo de Souza, com 366,57. Ivan Carlos Dariva teve o melhor desempenho do mês de fevereiro, com IEP de 378,00. Em março, Egídio Wilxesky alcançou o IEP de 369,33. Dirce P. Polswut foi a melhor em abril, com 347,52. Em maio, Eliane de Andrade Lopes de Souza obteve o IEP de 367,77. Antônio Gidione de Souza, melhor marca do ano, conquistou em junho o IEP de 389,68. Romildo Correia de Morais foi o melhor IEP de julho, com 381,05. Fábio Eduardo Norbiato foi o melhor IEP de agosto, com 380,66. José Mauro Mota apresentou o melhor resultado em setembro, com IEP de 355,26. O melhor IEP de outubro foi de Tania Xavier da Silva, com 368,32. E fechando o ano, em novembro, o melhor IEP foi alcançado por José Afonso Couto, com 374,47.
Melhor IEP do ano - Os três avicultores que alcançaram as maiores marcas de IEP do ano receberam um troféu e prêmio em dinheiro. O 1º lugar recebeu R$ 1.000,00; o segundo recebeu 500,00; e o 3º, R$ 300,00.
1° lugar – Integrado José da Silva Knupp (parceiro Antônio Gidione de Souza) – IEP 389,68;
2° lugar – Integrado Milton Dariva (parceiro Ivan Carlos Dariva) – IEP 388,88;
3° lugar – Integrada Rosa Ceranto (parceiro Romildo Correia de Morais) – IEP 381,05.
Maior média de IEP do ano - Aqueles que mantiveram regularidade durante o ano, fator de maior importância para a integração, também foram premiados com troféu e quantia em dinheiro, definindo as maiores médias do ano, considerados três lotes abatidos por período.
1° lugar – Integrado Egídio Wilxesky – IEP 359,01;         
2° lugar – Integrado José Luiz Braido (parceiro Flávio F. da Cruz) – IEP 350,78;
3° lugar – Integrado Paulo O. Couto (parceiro José Antônio do Couto) – IEP 349,57.

Fonte: Sistema Ocepar em 27/12/2012

Cooperativismo

ARTIGO: Lealdade e oportunismo nas cooperativas: desafios e mudanças na gestão

O objetivo deste estudo é analisar como dirigentes e cooperados percebem os fatores que contribuem na construção de relações de lealdade com a cooperativa. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com tipologia seccional. O meio de investigação utilizado foi pesquisa de campo por meio de um questionário aplicado a 12 dirigentes e 25 associados de cooperativas. A definição constitutiva que orientou a seleção das categorias de análise foi baseada em Oliver (1999). O estudo demonstrou que a deslealdade e o oportunismo estão presentes tanto nos dirigentes quanto nos cooperados, visto que a lealdade está condicionada à manutenção do status quo de cada um, relegando os valores cooperativistas de igualdade, coletividade e solidariedade a um segundo plano. Isso não é decorrente unicamente de um desvio comportamental dos associados, mas também é fruto das demandas que o ambiente institucional provoca nas organizações cooperativas que não conseguem responder adequadamente a tal contexto.
 
 
Autores:
 
Flávio José SimioniI; Elisabete Stradiotto SiqueiraII; Erlaine BinottoIII; Eduardo Eugênio SpersIV; Zilda Aparecida Soares de AraújoV
 
IProfessor Adjunto da Universidade Federal de Goiás, Campus jataí (UFG-CAJ). E-mail: fjsimioni@hotmail.com
IIProfessora Adjunta da Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA). E-mail: betebop@uol.com.br
IIIProfessora Adjunta da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail: e-binotto@uol.com.br
IVProfessor da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Núcleo de Ensino em Gestão Internacional e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq), USP. Email: eespers@esalq.usp.br
VProfessora da Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis Santa Lúcia. E-mail: zilda_araujo@terra.com.br

Notícias


BNDESPar aliena 296,4 milhões de ações da JBS
 
SÃO PAULO - O BNDESPar, braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, alienou 296,4 milhões de ações do frigorífico JBS em 28 de dezembro, informou a produtora de carnes em comunicado divulgado hoje.
A Caixa Econômica Federal (CEF) passará a ser titular dos papéis. De acordo com ela, as ações foram recebidas de seu controlador a título de transferência para aumento de capital.
 
Diego Giudice/BloombergCom a operação, o BNDESPar agora detém 584,4 milhões de ações da fabricante de proteínas, o equivalente a uma participação direta de 19,85% do capital social. Se contada a fatia que a holding possui por intermédio do Fundo de Investimento em Participações (PROT), de 3,14%, a participação total é de 23%.
 
“A JBS entende que essa alteração em sua estrutura acionária mantém uma base estratégica de investidores e não altera a composição do controle da companhia”, declarou no comunicado.
 
Por : (Tatiane Bortolozi | Valor)

Notícias

Produção industrial cai 0,6% em novembro, mostra IBGE
RIO - A produção industrial caiu 0,6% em novembro, na comparação com o mês anterior, na série com ajustes sazonais. Em outubro, a produção tinha avançado 0,1% sobre setembro, dado revisado de uma alta de 0,9%. Os dados constam da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
O resultado ficou acima da média de -0,9% prevista por dez analistas consultados pelo Valor Data. A maior parte dos entrevistados (seis) esperava retração de 1% no indicador. Na comparação com novembro de 2011, a produção industrial brasileira caiu 1%. No acumulado do ano, o setor tem baixa de 2,6% e, em 12 meses encerrados em novembro, queda de 2,5%.
 
A comparação entre novembro e outubro mostrou queda de 1,1% na produção de bens de capital, já com ajustes sazonais. Na mesma base de comparação, a produção de bens intermediários caiu 1%, enquanto a de bens de consumo duráveis recuou 1% e a de bens de consumo semi e não duráveis recuou 0,1%.
 
Em relação a novembro de 2011, a produção de bens de capital recuou 10,3%, a de bens intermediários caiu 1%, ao passo que a produção de bens de consumo duráveis cresceu 6% e a de bens de consumo semi e não duráveis avançou 0,4%.
 
No acumulado do ano até novembro, a produção de bens de capital caiu 11,6%, a de bens intermediários recuou 1,6%, enquanto a de bens de consumo duráveis caiu 3,3%, e a dos bens de consumo semi e não duráveis caiu 0,3%.
 
Nos últimos 12 meses encerrados em novembro, os bens de capital caíram 10,7%, os bens intermediários caíram 1,5%, os bens de consumo duráveis recuaram 3,5% e os bens de consumo semi e não duráveis caíram 0,3%.
 
Setores
 
De acordo com o levantamento, a produção industrial caiu em 16 dos 27 ramos investigados pela Pesquisa Industrial Mensal. Nesse período, na série livre de influências sazonais, o pior resultado registrado pelo IBGE foi no setor de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros, com baixa de 10,7%. Em seguida, a produção de fumo, que caiu 8,3%.
 
Na mesma base de comparação, a atividade de indústrias extrativas recuou 6,7%, enquanto a metalurgia básica caiu 3,3%. Já a produção de veículos automotores recuou 2,8% na passagem de outubro para novembro, na série livre de influências sazonais.
 
Por outro lado, a produção de vestuário e acessórios avançou 7,4% entre outubro e novembro, descontados os efeitos sazonais. A produção de bebidas, no mesmo período, teve alta de 3,4%, enquanto a de celulose, papel e produtos de papel cresceu 1,8%.
 
(Diogo Martins | Valor)
 

 
 

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Taxa de desemprego diminui na RMS em novembro
A Região Metropolitana de Salvador (RMS) registrou, no mês de novembro, uma queda na taxa de desemprego total. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o índice passou de 18,6%, para 17,2%. A PED é uma pesquisa realizada pelo governo da Bahia, através da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria do Planejamento (Seplan), em parceria com o Dieese, Seade e Setre.
Em novembro, o contingente de desempregados foi estimado em 325 mil pessoas, 26 mil a menos que no mês anterior. Esse resultado deveu-se ao aumento de postos de trabalho (26 mil) já que a PEA manteve-se estável. No período, foram criados 26 mil postos de trabalho, elevando o contingente de ocupados para 1.562 mil pessoas. Segundo os principais setores de atividade econômica analisados, houve crescimento nos Serviços (19 mil ou 2,0%) e na Construção (11 mil ou 8,0%). Por outro lado, a Indústria de transformação apresentou decréscimo (1 mil ou 0,8%), e o Comércio e reparação de veículos automores e motocicletas não variou.
Segundo o tipo de inserção ocupacional, o contingente de trabalhadores assalariados aumentou em relação ao mês anterior (31 mil ou 3,0%). Houve acréscimo no setor privado (27 mil ou 3,1%) e no setor público (6 mil ou 3,8%). Dentro do setor privado, verificou-se crescimento no contingente de trabalhadores com carteira assinada (25 mil ou 3,4%) e, com menor intensidade, no dos sem carteira assinada (2 mil ou 1,5%). Registrou-se aumento no contingente de empregados domésticos (4 mil ou 3,3%), enquanto houve redução entre os trabalhadores autônomos (2 mil ou 0,6%) e no agregado outras posições ocupacionais, que inclui os empregadores, trabalhadores familiares e donos de negócios familiares (7 mil ou 10,6%).
 
No mês de outubro, o rendimento médio real não variou para os ocupados e manteve-se relativamente estável para os assalariados (0,1%). Os valores dos rendimentos médios foram estimados em R$ 1.064 e R$ 1.164, para ocupados e assalariados, respectivamente.
 
Fonte: revista SEI em 21/12/2012

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Em SP, inflação pelo IPC acelera para 0,78% em dezembro, diz Fipe
SÃO PAULO - A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor na cidade de São Paulo (IPC/Fipe) encerrou o mês de dezembro com alta de 0,78%, acelerando-se em relação ao registrado na última quadrissemana de novembro (0,68%). Na comparação com a terceira apuração de dezembro, quando o reajuste médio de preços foi de 0,82%, o indicador, porém, desacelerou.
 
Na última quadrissemana do ano, os grupos que mais contribuíram para a alta de 0,78% foram o despesas pessoais, com alta de 2,01% e o de alimentação, com alta de 1,40%. Apesar de terem desacelerado em relação à terceira quadrissemana, quando haviam registrado alta de 2,05% e 1,41%, juntas as duas classes de despesa contribuíram com mais de 60% da inflação quadrissemanal.
 
Os grupos transporte (0,30% para 0,29%), saúde (0,28% para 0,24%), vestuário (0,91% para 0,03%) e educação (0,18% para 0,15%) também desaceleraram em relação à terceira semana do mês.
 
Somente o grupo transportes acelerou na última quadrissemana de dezembro, ao passar de 0,41% para alta de 0,47%.

http://www.valor.com.br/brasil/2957816/em-sp-inflacao-pelo-ipc-acelera-para-078-em-dezembro-diz-fipe#ixzz2H0m60nIX

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“Nosso sonho é a reserva extrativista para garantir uma vida digna”, diz quebradeira de coco

niceApós anos de muitas lutas, as quebradeiras de coco babaçu hoje vendem seus produtos até para outros países, como Itália e Estados Unidos. Para conhecer melhor essa história, conversamos com Maria Nice Machado, da coordenação regional do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), no estado do Maranhão. Ela também integra a coordenação do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e da Associação das Comunidades Negras Quilombolas.
Na entrevista ela conta os principais desafios das quebradeiras de coco, e aponta algumas iniciativas que melhorariam as condições de vida dessas trabalhadoras. A criação de reservas extrativistas (Resex), em sua opinião, é a principal solução dos problemas. O apoio na logística da produção, como o transporte dos frutos, também é outro desafio enfrentado pelas extrativistas. Conheça a seguir a história, reivindicações e propostas das quebradeiras.
Qual a região de atuação das quebradeiras do coco babaçu?
O MIQCB está em quatro estados (Pará, Maranhão, Tocantins e Piauí) e seis regiões. Temos 24 coordenadoras: cada região tem uma assessora, sendo que no estado do Maranhão fica a coordenadora geral e a assessora técnica. Começou a ser criado só por mulheres em 1979, quando houve o maior despejo das comunidades e devastações dos babaçuais. Nos sindicatos, igrejas e movimentos não estava incluída a extrativista, a quebradeira, como cidadã. Resolvemos criar o movimento, que começou pelo Mearim, uma região do Maranhão. Fizemos um seminário com 300 participantes, e em 1990 a gente resolveu criar a articulação de mulheres nos quatro estados. Para ganharmos força ou conseguirmos um projeto, bolsa e documento, passou a ser jurídico. Hoje somos 400 mil quebradeiras em sindicatos, associações, movimentos, mas tem aquelas que ainda não estão em entidades.
O movimento tem como primeiro passo a questão ambiental das palmeiras, porque a devastação não é só do babaçu mas de toda a floresta. Hoje já temos a Lei do Babaçu Livre, então as quebradeiras já pegam com mais facilidade. Essa lei garante aquele babaçu que está dentro da fazenda e não serve ao fazendeiro. O problema é que ele não deixa a gente apanhar, bota cercas elétricas, portões, e lá ninguém entra. Não queremos nada com a terra do fazendeiro, mas o babaçu não serve para ele e é uma riqueza natural que as quebradeiras pegam para tirar o seu sustento.
Essa lei foi criada há quantos anos?
Acho que foi por volta de 2004. Teve muita luta para ela entrar em vigor, muita morte no movimento das quebradeiras. Começou no Lago do Junco, no Maranhão, e logo depois mais dezoito fizeram a lei. Onde eu moro, no município de Belagua (MA), a gente tinha o projeto de criar Resex em toda a área da baixada. Com isso não precisa da lei, porque ela só dá o direito a buscar o babaçu: continua entrando na porteira como vaca, corre o risco na cerca elétrica, de se rasgar, uma cobra morder ou uma vaca vir para cima. A Resex é diferente, preservaremos a nossa terra e evitaremos essas coisas.
Além do coco essas palmeiras são usadas para mais alguma coisa?
A área das palmeiras tem recursos naturais e ninguém pode entrar. A madeira, que a gente usa para cobrir as casas e outras coisas importantes, eles tiram. Com a lei do babaçu a gente briga também pelo extrativismo, porque tiramos um monte de coisas do coco, hoje já sabemos fazer o sabonete e uma série de coisas que nos ajuda no dia a dia. E o babaçu é uma das riquezas naturais que até hoje não tem nenhuma árvore para substituí-la.
Quanto gera de renda para uma quebradeira de coco a extração do babaçu?
Quando a gente quebrava só a emenda tínhamos um lucro muito mais baixo, porque só vendia o quilo para o atravessador. Hoje algumas de nós trabalhamos com a forrageira também. Na minha comunidade, por exemplo, temos uma pequena indústria que faz 20 mil sabonetes por mês e só não faz mais porque não tem mercado direto. Fazemos também 20 mil kg por mês de óleo, então já temos uma indústria na associação para dar um resultado maior. Temos ainda uma cooperativa interestadual dos quatro estados, que são 28 grupos de produção, e ela vende os produtos para os outros mercados.
nice com produtos
Vendemos para poucas fábricas, e compramos por um preço mais caro que o do atravessador. A cooperativa compra da quebradeira, e elas trabalham na fábrica fazendo o óleo e o sabonete. Pagamos as despesas da cooperativa e o lucro é dividido entre as quebradeiras. Às vezes a gente faz uma venda boa e tira por semana R$ 100,00 para cada quebradeira, então dá uma média de R$ 400,00 por mês de lucro. Mas ainda não temos o capital de giro e um caminhão para ir às comunidades. Fizemos um levantamento de 120 mil toneladas por mês, mas falta o capital para conseguir um projeto que compre o coco de todas as quebradeiras: nosso sonho é esse. Fizemos um projeto para conseguir um caminhão, porque a carroça no máximo vai 10km, e as comunidades não são perto. Nosso maior problema é a falta de capital de giro para comprar o coco delas, e o caminhão para transportar a produção da quebradeira.
O coco babaçu dá direto ou é sazonal?
Ele cai todo tempo a partir de agosto até o mês de janeiro, e nos outros meses é a entre safra que cai muito menos. Quando a gente quebra 15 kg no verão, no inverno a gente quebra de 5kg a 8kg porque o coco é molhado e escorrega, além de cair menos.
Como é a relação dos quilombos com as quebradeiras do coco?
A gente se articula com a titulação das fazendas que tiveram os escravos avós da gente, e continuamos morando lá. Tem lugar que o engenho velho funciona ainda, e temos respeito por algumas pessoas que trabalharam e não receberam nada. Criamos o movimento para defender esses direitos. Essas pessoas se auto definem como negras e afrodescendentes de escravos, consideram suas culturas e tradições. Lutamos por um documento que comprove tudo isso, a gente briga por essas indenizações através da terra, da moradia, educação de qualidade, saúde digna, uma cota para nossos filhos chegarem até a universidade.
E como está a disputa dos quilombolas hoje?
Passamos por muita dificuldade, as pessoas que você mais vê sem a terra são os quilombolas. Temos 60 territórios nacionais e não foi desapropriada uma área demarcada, nenhuma! Reserva até agora só tem uma no Maranhão. Então é uma luta muito importante que a gente nunca deixou, porque todas as áreas quilombolas são preservadas, temos um respeito muito grande com a natureza. Nossas escolas são de péssima qualidade, as mesmas do pescador, do agricultor familiar, etc. É uma coisa ainda muito triste, precisamos dessas áreas tituladas, regularizadas, demarcadas, para que a gente possa ter uma política pública. Para adquirir um direito hoje você tem que ter terra, então a gente se sente a pior pessoa do mundo.
E a participação das quebradeiras no Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS)?
 
Participamos desde a fundação do CNS, porque o passo principal é a criação das Resex. É uma entidade chave nesse sentido. Achamos que se não tiver a terra, floresta e água ninguém vive. A Resex dá segurança de vida, da floresta em pé, preserva e produz. É para a gente morar dentro, é o direito maior da terra. Defendemos o babaçu dentro dessas áreas e não na dos outros. Eu moro numa Resex quilombola, mas não é demarcada: dão o título mas não resolve o problema. A convivência com os fazendeiros é muito ruim, tem lugares que a gente não entra porque tem cerca elétrica, precisa saber os dias que eles estão lá, etc. Mesmo sendo áreas quilombolas não saem de dentro, são perversos. Botam pistoleiros para a gente não entrar, e ameaçam. No mês de julho mataram um companheiro, porque um fazendeiro está perdendo parte do seu território. Está há três anos com um documento, e já se acha dono de uma reserva quilombola que tem mais de 200 anos. No Maranhão o Incra tem muita culpa nisso: não dizem o tamanho da área e mesmo dando o título os fazendeiros ficam. Um dos maiores pistoleiros e latifundiários é o governador. A Roseana Sarney tem fazenda em quase todos os municípios, tem fazenda de até 150 mil hectares, é um negócio muito sério. Então o nosso sonho é a reserva para garantir uma vida digna para a gente.
 

Notícias


ICEB registra melhora na expectativa dos empresários da agropecuária e indústria
Empresários dos setores de Agropecuária e Indústria aumentaram suas expectativas em novembro. No mês, o setor de Agropecuária teve incremento de 17,4 pontos, contabilizando um total de 10,4 pontos, ao passo que a Indústria cresceu 5,7 e contabiliza -79,6 pontos. Apesar da significativa melhora na expectativa dos empresários os setores permanecem na zona de Pessimismo Moderado. Os dados são do Indicador de Confiança do Empresariado Baiano (ICEB), calculado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria do Planejamento. Com o arrefecimento na expectativa do setor de Serviços e Comércio (-13,4 pontos), no mês de novembro o ICEB teve redução de 5,4 pontos, contabilizando 103,1 pontos e mantendo-se na zona de Otimismo Moderado.
A pesquisa aponta que os empresários da agropecuária e da indústria melhoraram as suas expectativas em relação ao mês anterior, tendo como destaque a perspectiva de desvalorização cambial nos próximos 12 meses. O mesmo não acontece para o setor de Serviços e Comércio que reduziu as esperanças setoriais em relação a vendas, crédito, câmbio e capacidade produtiva e soma 199,1 pontos, mantendo-se na zona de Otimismo Moderado.
A pesquisa de confiança avalia as expectativas das variáveis econômicas (PIB, câmbio, inflação e juros) e de desempenho das empresas (vendas, crédito, situação financeira, emprego, capacidade produtiva, abertura de unidades) perante aos sindicatos patronais e associações de representantes do setor produtivo baiano. No mês de novembro, as variáveis de desempenho, no geral, tiveram resultado melhores que as variáveis econômicas. Uma vez que o setor de Serviço e Comércio tem uma maior participação no cálculo do índice. Já os setores da Indústria e Agropecuária, em termos individuais, se destacaram no desempenho das empresas.
 
No geral, as variáveis de desempenho obtiveram 112,3 pontos, redução de 32,3 pontos em relação ao mês anterior. As variáveis econômicas registram 84,6 pontos, alta de 48,4 pontos. Sendo que ambas continuam na zona de Otimismo Moderado. Verificando os resultados setoriais por desempenho das empresas, os setores da Agropecuária e Indústria seguem na zona de Pessimismo Moderado. Serviço e Comércio deixam a zona de Otimismo para o Otimismo Moderado. No que diz respeito às variáveis econômicas, Agropecuária passa para zona de Otimismo Moderado junto com o setor de Serviço e Comércio. No entanto a Indústria retorna para zona de fronteira entre o Otimismo Moderado e Pessimismo Moderado.
 
Fonte: revista SEI em 21/12/2012

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Notícias


 
O crescimento do agronegócio no Brasil está vinculado às "mudanças neoliberais nas leis de política agrária", que possibilitaram a expansão exorbitante do setor sucroalcooleiro, especialmente em São Paulo, diz Tiago Cubas em entrevista à IHU On-Line. Apenas no estado paulista, a "produção total da cana em 1990 era de 137.835.000 toneladas com 1.811.980 hectares", e aumentou para "386.061.274 toneladas com 4.914.670 hectares" em 2008, informa.
 
Segundo o pesquisador, questões políticas favoreceram a expansão do setor na economia brasileira. "Com a continuidade do PSDB no estado de São Paulo, com a entrada do governo do PT no âmbito federal e com bastante vínculo construído no estado com o agronegócio através do chefe de gabinete, Antônio Palocci, e o ex-ministro de agricultura, Roberto Rodrigues, a agroindústria da cana-de-açúcar obteve grandes investimentos e um enorme crescimento, tanto econômica como politicamente", frisa.
 
rsz tiagocubasAutor da dissertação “São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre camponeses e ruralistas de 1988 a 2009”, Tiago Cubas é membro do grupo de pesquisa do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária – NERA, e analisa os limites de desenvolvimento social em regiões onde cresce a produção do agronegócio. Na semana passada sua dissertação foi comentada na imprensa, e algumas matérias “distorceram o que foi de fato nosso objetivo”, avalia.
 
A pesquisa se propôs a “expor a luta pela terra e a luta para se manter na terra produzindo a favor da soberania alimentar, consequentemente o protagonismo camponês no enfrentamento com o capital no estado de São Paulo, bem como sua representação, principalmente na grande mídia. Esse é um detalhe perdido ironicamente na cobertura da dissertação recentemente defendida”, lamenta.
 
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Cubas comenta o comitê estratégico para o agronegócio, anunciado pelo Ministério da Agricultura para fortalecer o setor. "Para 2011/12 serão destinados no Plano Agrícola da Agricultura e da Pecuária R$ 107,21 bilhões, isso revela um aumento de 7,2% em relação ao plano passado. O que justifica o que dizemos até então é mostrar que, segundo o Ministério da Agricultura, essa linha de crédito tem a intenção de renovar os canaviais brasileiros, com destaque para o incentivo a própria cana-de-açúcar, além da laranja e da pecuária. Para esse plano não existe limite de crédito por estado; isso se dá por recursos oferecidos por linha de investimento, e são três: custeio e comercialização (R$ 80,2 bilhões); investimento (R$ 20,5 bilhões); e linhas especiais (R$ 6,5 bilhões)".
 
E dispara: "Estava incluso no discurso de lançamento da presidente Dilma Rousseff, em Ribeirão Preto em 17 de junho de 2011, um incentivo especial à produção da cana-de-açúcar e à pecuária. Por isso houve a criação de uma linha especial de crédito para a cana, por produtor, que será de um milhão de reais para expansão e renovação dos canaviais; e para a pecuária, por produtor, que será de 750 mil reais para compra de matrizes, produtores e custeio".
 
Tiago Cubas (foto) é mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.Confira a entrevista.
 
IHU On-Line – Como o agronegócio tem se desenvolvido em São Paulo nos últimos anos? Quais são as culturas que mais se desenvolvem e a que atribui a expansão agrícola no estado?
 
Tiago Cubas – O agronegócio diria: “eu vou bem, obrigado”. Esse sistema – o agronegócio, que é agricultura, ruralistas, Estado capitalista, imprensa corporativista, transnacionais – tem se expandido com grande excelência no estado de São Paulo. A partir principalmente dos anos 1990, com mudanças neoliberais nas leis de política agrária, notamos, segundo nosso estudo, que as áreas do agronegócio sucroalcooleiro, aí incluímos a agricultura da cana-de-açúcar e as agroindústrias, cresceram exorbitantemente.
 
Em São Paulo, a produção total da cana em 1990 era de 137.835.000 toneladas com 1.811.980 hectares, já em 2008 tivemos 386.061.274 toneladas com 4.914.670 hectares. Em 1990, a razão média era de 76,06 toneladas por hectare, e em 2008 a razão média era de 74,48 toneladas por hectare (com mais de 150 usinas espalhadas pelo estado).
 
IHU On-Line – Quais as implicações do desenvolvimento do agronegócio em São Paulo? Por que ele não estimula o desenvolvimento social e favorece a pobreza relativa?
 
Tiago Cubas – Temos que lembrar dos fatores na escala internacional, como o crescimento no preço de petróleo, que produziu pressão no início do século XXI para a retomada da política do PROALCOOL, iniciada pela ditadura nos anos 1970. Com a continuidade do PSDB no estado de São Paulo, com a entrada do governo PT no âmbito federal e com bastante vínculo construído no estado com o agronegócio através do chefe de gabinete Antônio Palocci, e o ministro de agricultura Roberto Rodrigues, a agroindústria da cana-de-açúcar obteve grandes investimentos e um enorme crescimento, tanto econômica como politicamente. Palocci era prefeito de Ribeirão Preto, que há décadas era considerada o coração do agronegócio no Brasil. Uma cidade enorme onde os donos da terra impediram, há uns 50 anos, qualquer tipo de desenvolvimento econômico que poderia ameaçar seu domínio. Então, continua sendo uma cidade de comércio e serviços dependente da atividade agrícola, sem nenhuma outra indústria.
 
Tentamos expressar nos mapas e nas análises da dissertação como as políticas públicas a favor da agroindústria de cana e etanol foram acompanhadas pelas políticas compensatórias e assistencialistas em vez de políticas emancipatórias para os sem-terra. Assim, os usineiros e fazendeiros de São Paulo conseguiram repassar, ao longo do tempo, qualquer responsabilidade com a questão social para o estado, ao mesmo tempo em que – apoiando reformas neoliberais e antes disso: o golpe do estado, a ditadura e jagunços – procuraram diminuir a capacidade do Estado funcionar sem seu aval.
 
IHU On-Line – Outro dado do mapeamento diz respeito à concentração de casos de violência no campo nas áreas em que houve expansão agrícola. Quais as motivações desses conflitos?
 
Tiago Cubas – Existem várias possibilidades. Entretanto, a questão deveria ser: o agronegócio trouxe miséria, ou a procurou a fim de aproveitar-se dela, ou ainda: a causou? É importante notar que a imprensa corporativista pegou nosso estudo sobre seu papel no conflito entre camponeses e ruralistas como modelos de construção de sociedades distintos, disputando o território do estado de São Paulo, para enfatizar, em sua reportagem da dissertação, uma relação geográfica alarmante ("agronegócio e pobreza relativa crescem juntos"), que os mapas no estudo destacam. Então, sobre quais disputas de poder estamos falando?
 
O Globo argumentou em sua reportagem da dissertação que o agronegócio "trouxe também" miséria e violência, mas esta representação da dissertação não faz parte de nosso trabalho. Há evidência, é claro, no sentido de que a grande lavoura, ou latifúndio, ou agronegócio concentra não só a terra, mas também riqueza e poder. Sua construção depende da desconstrução (destruição) do que veio antes: ou as comunidades dos povos indígenas ou o campesinato. Assim, garanta para ele a terra, a riqueza dela, mão de obra dependente, e verá a continuidade de seu poder político, social e econômico.
 
Em São Paulo, os donos da terra e do poder também subsidiaram grandes migrações para o estado, ou dos chamados colonos da Europa (ou de homens e mulheres camponeses do Nordeste, reduzindo-os a “proletariado”). A mídia corporativista “fez de conta” que estes apareceram de repente, surpreendentemente, ao lado do agronegócio, da miséria e da violência, como se fosse um acidente. Assim a mídia se mostra contraditória até na reportagem de um estudo que mostra o contrário: ela revela seu papel como um braço direito do agronegócio, contribuindo para reforçar sua hegemonia na luta territorial. Até com a reportagem de um estudo sobre seu papel na luta pela terra ela consegue dissimular e desviar o olhar da realidade para a narrativa de sua escolha. Então, é importante observar o papel de enfrentamento de movimentos socioterritoriais, como o do MST, que buscam a emancipação dos seus territórios frente a vertente capitalista agrária. Esses conflitos são causados pela repressão e opressão direta dos ruralistas contra os camponeses que resistem e se recriam no seu modo de viver (produção, trabalho acessório, cultura, identidade).
 
IHU On-Line – Quais são as características econômicas, ambientais e sociais de Ribeirão Preto, a capital do agronegócio brasileiro?
 
Tiago Cubas – Ribeirão Preto é um lugar terrível. Meu orientador morou lá durante anos e escreveu uma história do lugar, publicado em português em 2012. É quente, poluído e cercado de favelas (isso devido ao desordenamento territorial urbano na especulação imobiliária e na falta de senso socioambiental). Isso porque o agronegócio de cana destruiu toda sua proteção florestal para fazer seus “mares” de cana, expulsou o campesinato do campo para a cidade, acabando com a diversidade que prevaleceu até os anos 1960. Impediu todos os planos de implantação de outras indústrias e brigou ferozmente para comprometer os sindicatos e não deixar o MST se organizar. Com muita luta e a ajuda de alguns setores da Igreja Católica, do movimento sindical e da USP, o MST conseguiu ocupar e assentar 260 famílias na antiga fazenda da Barra dentro do município, criando o Assentamento Mario Lago. É pouco, mas muito, dado ao absolutismo do reino dos coronéis da burguesia agrária da região.
 
IHU On-Line – Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, informou em artigo recente que “a área plantada com grãos no país cresceu 37%, enquanto a produção aumentou 178%”, e que há “51 milhões de hectares plantados com grãos” no país. O que esses dados significam? Como o senhor interpreta esses dados?
 
Tiago Cubas – É bom deixar claro que o problema aqui não é cana-de-açúcar, ou a soja, mas a monocultura para agroexportação e, principalmente, o modelo de apropriação das relações sociais e de poder que envolvem o agronegócio e os camponeses no Brasil. Esses dados refletem a expansão do agronegócio em todo o país, e São Paulo, como centro econômico e político nacional, não é diferente.
 
IHU On-Line – É possível estabelecer alguma relação entre o agronegócio e a sustentabilidade? Esse é um modelo sustentável? Em que sentido?
 
Tiago Cubas – É impossível o diálogo entre qualquer tipo de conceito que remeta a equilíbrio no interior do sistema capitalista agrário do agronegócio. Assim como a falácia do aquecimento global e os créditos de carbono, a sustentabilidade é outro projeto de marketing que envolve grandes corporações capitalistas ligadas também ao agronegócio no intuito de mascarar o que, de fato, é a sua essência: a concentração, segregação e desigualdade. É importante aí entendermos os conceitos de essência do território e aparência do território. O território do capital se situa em aparentar a realidade como discurso único, e essa é a sua essência, a razão de não se explicar por completo, e assim ele se torna forte. Esse território é legitimado então quando o que está posto é a resolução para todas as coisas. Contudo, a imagem territorial (aparência) não pode ser atribuída à totalidade, ela apenas faz parte de uma realidade muito mais complexa do que vemos, o invisível (ou aquilo que ainda não foi escancarado).
 
O território do agronegócio vive de sua aparência, porque a sua essência é não se explicar, é ser uma propaganda ambulante de si mesmo e do seu “bem”. Esse projeto publicitário, que envolve a imprensa corporativista, tenta convencer a sociedade de que o desmatamento histórico – agora mais evidente na área da Fronteira Legal da Amazônia –, as queimadas, os agrotóxicos, os transgênicos e a exploração do trabalhador urbano e rural não são resultados do sistema do agronegócio. Dessa forma ele propõe o discurso de que tem procurado se estabelecer “sustentável”. O único modelo que conheço equilibrado, desde o seu modo de vida e produção, é o modelo camponês (o conceito de modelo camponês pode ser entendido como agricultor familiar que privilegia a solidariedade nas relações sociais e o equilíbrio com o meio ambiente no intuito de desenvolver a soberania alimentar lutando por políticas públicas emancipatórias). Mas para que o modelo camponês se realize eficazmente, é preciso condições de políticas de obtenção de terra desconcentradoras, subsídios à produção e à criação de mercados alternativos.
 
IHU On-Line – O Ministério da Agricultura anunciou o lançamento do comitê estratégico com empresários do setor do agronegócio para elaborar uma agenda estratégica para fortalecer o agronegócio nacional. Como avalia o investimento do governo nesta área?
 
Tiago Cubas – Dos planos de 2002/2003 para os planos de 2010/2011 tivemos tanto no Plano Safra da Agricultura Familiar – PAF como Plano Safra da Agricultura e Pecuária – PAP capitalista um aumento nos recursos direcionados para agricultura camponesa e para agricultura capitalista. A divergência que podemos apontar ao interpretar os dados é que o aumento foi muito maior para os investimentos voltados para agricultura capitalista. De 2002/2003 para 2010/2011 o PAP aumentou seus investimentos cerca de R$ 79,5 bilhões, e o PAF aumentou cerca de R$ 14,6 bilhões. Apesar de proporcionalmente o crescimento ser semelhante à diferença absoluta, esse dado é significativo, pois aponta para o prevalecimento (dos interesses) do território do paradigma do capitalismo agrário nas políticas públicas para o campo.
 
Para 2011/2012 serão destinados no Plano Agrícola da Agricultura e da Pecuária R$ 107,21 bilhões, isso revela um aumento de 7,2% em relação ao plano passado. O que justifica o que dizemos até então é mostrar que, segundo o Ministério da Agricultura, essa linha de crédito tem a intenção de renovar os canaviais brasileiros, com destaque para o incentivo a própria cana-de-açúcar, além da laranja e da pecuária. Para esse plano não existe limite de crédito por estado; isso se dá por recursos oferecidos por linha de investimento, e são três: custeio e comercialização (R$ 80,2 bilhões); investimento (R$ 20,5 bilhões); e linhas especiais (R$ 6,5 bilhões).
 
Estava incluso no discurso de lançamento da presidente Dilma Rousseff, em Ribeirão Preto em 17 de junho de 2011, um incentivo especial à produção da cana-de-açúcar e à pecuária. Por isso houve a criação de uma linha especial de crédito para a cana, por produtor, que será de um milhão de reais para expansão e renovação dos canaviais; e para a pecuária, por produtor, que será de 750 mil reais para compra de matrizes, produtores e custeio.
 
Já para o Plano Safra do Agricultor Familiar de 2011/2012, que é para o campesinato, temos um investimento total de R$ 16,2 bilhões. O foco desse plano é incentivar a produção de alimentos, os que principalmente fazem parte da alimentação tradicional do brasileiro como arroz, feijão, milho e mandioca. Um braço importante do Plano Safra do Agricultor Familiar é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf. Mas que ainda é muito pouco quando obsevamos a quantidade de alimentos que os camponeses produzem. (De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, são 70% dos alimentos produzidos por camponeses em 24% das terras utilizadas.)
 
IHU On-Line – Como vê a discussão acerca da reforma agrária no Brasil? O que aconteceu com o Incra?
 
Tiago Cubas – Não se trata do que aconteceu com o Incra. Esse Instituto sempre esteve amarrado pelas correntes do Estado capitalista. Na verdade, a pergunta deveria ser: o que aconteceu com a função social e de denúncia da imprensa? Onde os governos têm investido capital: no agronegócio ou no campesinato? As políticas de obtenção de terra no Brasil são irrisórias quando comparamos isso com o poder de cooptação do agronegócio em franca expansão dos seus territórios. O protagonismo da luta camponesa, que faz frente a essa expansão, de 1988 a 2009 em São Paulo, teve 1312 ocupações com 193.516 famílias, uma média de 147,5 famílias por ocupação, sabendo que 70% aproximadamente foram coordenadas pelo MST. E essa parte da história é frequentemente ocultada pela imprensa, e isso revela parte importante da discussão do conceito de reforma agrária para os movimentos socioterritoriais.
 
Desse modo, o que o governo chama de reforma agrária são, em sua maioria, políticas de obtenção de terra, e só. Reforma agrária é quando acontece a desconcentração fundiária, e a política da desapropriação de terras é um raro exemplo disso. Os governos brasileiro e paulista deixaram há muito tempo essa pauta. Enquanto a luta continua denunciando aspectos degradantes do formato do agronegócio, além da exploração do trabalhador e grilagens de terras, o discurso do crescimento econômico tem tomado a frente do desenvolvimento socioterritorial. Isso ocorre de tal modo que somente desapropriar e conceder assentamentos não é suficiente sem políticas de auxílio ao desenvolvimento do modelo camponês de produção social e econômica.
 
IHU On-Line – Em que consistiriam políticas públicas eficientes para o desenvolvimento da agricultura familiar em São Paulo?
 
Tiago Cubas – Sob um olhar teórico, seriam políticas que não fossem meramente compensatórias ou assistencialistas. Políticas públicas emancipatórias e que forneçam ao pequeno produtor camponês o espaço para manter a defesa do conceito da soberania alimentar, para garantir seu modo de vida (cultura, tradições, etc.), sobretudo políticas que criem novas possibilidades de mercados não capitalistas.
 
Temos visto algumas iniciativas importantes e que consideramos políticas públicas emancipatórias, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – Pronera, que, através de cursos superiores em parceria com universidades públicas para os assentados, fazem parte da luta pela terra. Esses dois programas são exemplos de conquistas dos movimentos socioterritoriais que evidenciam a disputa por dois modelos distintos de sociedade: o modelo camponês e o capitalista agrário. Recentemente, de 2010 a 2012 tive a oportunidade de trabalhar no Curso Especial de Geografia para Assentados – parceria Incra/Pronera/Unesp), que formou neste ano mais de 40 assentados na graduação em Geografia os quais têm atuado em suas comunidades, fazendo o ensino e conhecimento camponês. São profissionais que qualificaram a sua militância nos movimentos de que participam. Isso tudo é resultado de uma luta histórica por territórios que hoje se instala também no Congresso Nacional por políticas públicas diferenciadas.
 
(*) Entrevista publicada originalmente no IHU Online (Unisinos).
 

Notícias

Pesquisa aponta a pobreza gerada com o avanço do agronegócio
 
O levantamento sinaliza ainda que o agronegócio aproveita a vulnerabilidade das regiões para se instalar e criar raízes. Intitulado São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre camponeses e ruralistas de 1988 a 2009, o estudo é do pesquisador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera), Tiago Cubas. Ele trabalha com dados como o Índice de Pobreza Relativa, Índice de Gini e de Concentração de Riqueza para revelar uma situação de contradição.
Hoje a população rural do estado é de 1,7 milhões de habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 1980 era de 2,9 milhões. De acordo com a pesquisa, a região do entorno da cidade de Ribeirão Preto, a chamada Califórnia Brasileira, é uma das que mais aumentaram o abismo econômico entre a população durante os anos de 1988 a 2009. Situação semelhante também ocorreu no entorno das cidades de Araraquara e Campinas e nas regiões do Pontal do Parapanema – principalmente no entorno dos municípios de Presidente Prudente e Araçatuba, e do Vale do Ribeira, entorno do litoral sul paulista e de Itapetininga (veja mapa abaixo). Dos 645 municípios paulistas cadastrados para mapeamento, apenas 228 municípios conseguiram amenizar a intensidade da pobreza no período pesquisado. No restante, a miséria aumentou.
 
O autor mostra que as regiões onde isso ocorreu são espaços do desenvolvimento do agronegócio, especialmente da monocultura da cana-de-açúcar. É o caso da Região da Alta Mogiana (Ribeirão Preto, Araraquara e Campinas), onde a cana é preponderante. A área do Pontal do Parapanema, tradicionalmente reduto da pecuária no estado paulista, também sofreu com a expansão da monocultura. “Isso pode significar que o agronegócio escolhe as áreas mais vulneráveis para se instalar e, assim por diante, acirrar as desigualdades sociais e degradar o meio ambiente”, explica o pesquisador.
 
Além de terem se tornado mais desiguais socialmente, essas regiões são as que mais registram conflitos e assassinatos contra trabalhadores rurais e camponeses. “Quando acoplamos as análises, a representação da expansão da cultura da cana-de-açúcar no período mais recente com os outros elementos é possível ver uma relação com maior incidência de violência”, explica Cubas ao Brasil de Fato.
 
Incentivo dos governos
 
A cultura da cana-de-açúcar é exercida em grandes extensões de terra e associada ao trabalho precarizado, à expulsão de pequenos proprietários rurais e ao conflito com acampados e assentados da reforma agrária.
 
De acordo com Cubas, a expansão da cana iniciada pela ditadura civil-militar na década de 1970 – na época, como alternativa diante do crescimento do preço do petróleo - ganhou forte impulso de continuidade no estado de São Paulo graças à presença do PSDB no comando do governo estadual e a entrada do PT na esfera federal. Os ex-ministros do governo Lula, João Roberto Rodrigues (Agricultura) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) teriam sido, segundo ele, grandes articuladores do governo com o setor canavieiro.
 
O crescimento expressivo do setor no estado ficou registrado no número de toneladas produzidas e na exigência de terra, cada vez maior, para plantio. Apenas no estado paulista, a produção em toneladas da monocultura passou de 138 em 1990 para 239 em 2004 e 426 em 2010. A produção em milhões de hectares para os mesmos anos foi de 1,8; 2,9 e 4,9, respectivamente. Um crescimento bem superior a 100% nos dois casos. O destaque ficou por conta da região de Ribeirão Preto que, em 2010, concentrou as três maiores produções: Morro Agudo (com a produção de 7,9 milhões de toneladas). Barretos e Guaíra - cada qual produzindo 5,8 milhões de toneladas.
 
Pobreza
 
“A monocultura da cana-de-açúcar é a que transmite os valores atuais do capitalismo agrário paulista através da expansão indiscriminada de todo o seu aparato”, afirma Cubas, ressaltando que essa pressão tem obrigado assentados a arrendarem seus lotes para o plantio da cana e alugaram sua força de trabalho para o corte nas fazendas.
 
A assentada da Comuna da Terra Mario Lago, localizada no município de Ribeirão Preto, e integrante da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Kelli Mafort, diz que é possível acompanhar o desenvolvimento da pobreza gerada pela cultura da cana-de-açúcar na região. Segundo ela, muitos acampados e trabalhadores rurais trabalham no corte por falta de outra oportunidade de emprego. “Não só eles, mas muitas famílias assentadas também trazem uma amarga relação com a cana pois carregam até hoje graves problemas de saúde devido ao trabalho exaustivo na atividade”.
 
Já o acampamento Alexandra Kollontai, localizado no munícipio de Serrana, conta com trabalhadores do corte de cana que se queixam dos poucos postos de trabalho, cada vez mais raros em razão do incentivo à mecanização. Segundo Mafort, o acampamento tem famílias há quase cinco anos acampadas e a paralisia da política de criação de novos assentamentos também contribui para o aumento da pobreza.
 
Nas mãos de poucos
 
A pesquisa São Paulo Agrário mostrou ainda que o agronegócio no interior do estado está afetando a concentração de renda e de terra entre a população. Tiago Cubas aponta que a renda apropriada pelos 10% mais ricos vem aumentando nas regiões do Pontal do Paranapanema e da Alta Mogiana, nas quais há o crescimento intenso do agronegócio sucroalcooleiro. “Em 1991 eram 23% dos municípios do estado que tinham a apropriação de 40 a 44% da renda do município para os 10% mais ricos. Esse número chega em 2010, com a mesma amplitude de concentração, em quase 30% dos municípios”, destaca.
 
E não é somente a renda, a concentração fundiária também cresceu. De acordo com dados do Censo Agropecuário do IBGE, em 1995, as propriedades acima de 200 hectares contabilizavam 61% (10.659.891 hectares) do total, enquanto as propriedades igual ou abaixo de 200 hectares chegavam a 39% (6.709.313 hectares). Já em 2006, as propriedades acima de 200 hectares já eram 71% (14.332.546 hectares) do total, ao passo que as propriedades igual ou abaixo de 200 hectares eram 29% (5.840.727 hectares).
 
Uma das áreas mais desiguais do estado de São Paulo em relação à concentração de renda e terra é o Pontal do Paranapanema. O drama é grande entre as famílias acampadas na região, em torno de 2 mil que esperam ansiosamente por serem assentadas. De acordo com o assentado e integrante da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Delwek Mateus, apesar de farta oferta de terras devolutas, não há sinalização do avanço da reforma agrária. “No Pontal há grande quantidade de terras públicas de responsabilidade do governo do estado, mas griladas por latifundiários. E o governo estadual, ao invés de transformar essas áreas em assentamentos da reforma agrária, quer regularizar as grilagens”, explica Mateus, em referência ao projeto de lei 687/2011 apresentado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que legaliza terras griladas no Pontal.
 
O setor canavieiro no Pontal cresce em extensão e na implantação de usinas para a produção de etanol e açúcar. A falta de oferta de outro tipo de emprego na zona rural também obriga acampados e assentados a viverem da atividade. Segundo Mateus, o agronegócio traz pobreza principalmente para as cidades pequenas que dependem do trabalho no campo. “Cada vez que aumenta a mecanização no campo, há a perda de postos de trabalho. Com diminuição dos postos de trabalho, consequentemente há aumento da oferta de mão-de-obra, o que acarreta na diminuição dos salários e exige uma maior produtividade para que o trabalhador tenha um preço digno. Todo esse conjunto de fatores leva a um processo de empobrecimento da população”, argumenta o assentado.
 
Para Mateus e Cubas, a reforma agrária é uma saída para acabar com a pobreza no campo brasileiro. Mas a julgar pelos investimentos, os governos ainda não enxergam a situação dessa forma. Um exemplo disso é a destinação de recursos diferenciados para a agricultura familiar e para o agronegócio. Enquanto o Plano Safra do Agricultor Familiar de 2011/12 recebeu um investimento total de R$ 16,2 bilhões, o Plano Agrícola da Agricultura e da Pecuária de 2011/12 conquistou R$ 107,21 bilhões, 7,2% a mais em relação ao valor dos recursos do plano passado.
 
A postura “natural” de criminalizar
 
Durante os últimos três anos, Tiago Cubas também analisou a cobertura impressa sobre as ocupações, assentamentos e outras manifestações de luta pela reforma agrária no estado de São Paulo. Foram estudados mais de 30 mil recortes dos periódicos O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, de repercussão nacional, e O Imparcial e Oeste Notícia, com abrangência na região de Presidente Prudente. Uma das conclusões do pesquisador é que a mídia corporativa totaliza a visão das relações capitalistas no campo, estereotipa e não aceita sujeitos e modos de produção alternativos.
 
O quadro que encontrou é desolador do ponto de vista do acesso à informação sobre as causas dos movimentos sociais. Cubas mostra que notícias e artigos promovem interpretações binárias, nas quais ruralistas são comumente tratados como vítimas e camponeses como assaltantes.
 
Enquanto a luta pela terra é identificada como ação contra a ordem estabelecida, o agronegócio é mostrado pela ótica do progresso, modernização e tecnologia. Não há nuances nem explicações mais profundas capazes de explicar a existência de dois projetos distintos para o desenvolvimento do campo.
 
Para Cubas, a formação de uma opinião pública desfavorável aos sem-terra contribui para diminuir o estímulo à elaboração e à implantação de planos e programas de reforma agrária no estado. Nada diferente do esperado de uma imprensa que tem fortes ligações políticas e econômicas com o setor industrial do campo. O jornal Oeste Notícias, por exemplo, pertence é coordenado por Paulo Lima, proprietário da TV Fronteira filiada à Rede Globo e filho de Agripino Lima, ex-prefeito de Presidente Prudente e latifundiário ligado a UDR (União Democrática Ruralista). Já O Imparcial tem como proprietários Mário Peretti, Adelmo Vaballi e Deodato Silva que, segundo Cubas, fazem parte da elite histórica de Presidente Prudente.
 
“Em nossas análises, esses dois jornais regionais mostram uma íntima ligação entre os seus proprietários e o conteúdo das notícias que revelaram uma memória histórica dos dominadores”, afirma o pesquisador. Já O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo são historicamente reconhecidos pela defesa dos interesses do setor ruralista.
 
O orientador de Cubas no mestrado, Cliff Welch, acentua que os jornais da grande imprensa contribuem para o processo de aperfeiçoamento do capitalismo industrial no controle sobre a terra. “A partir do final do século 19, podemos documentar o curso paralelo do jornal O Estado de S. Paulo, o então Província de S. Paulo, com a cobertura de Euclides da Cunha das múltiplas campanhas de repressão do arraial de Canudos. Hoje em dia, quando o Estadão apoia a repressão e a criminalização dos sem terra, está tomando uma postura 'natural' da perspectiva da burguesia, para qual a predominância do reino da lei é crucial para manter a ordem dos forasteiros e o progresso (da burguesia)”, ressalta Welch, que é integrante da pós-graduação da Cátedra da Unesco para Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial
 
(*) Reportagem de Aline Scarzo no Brasil de Fato.

Notícias

Mapa publica estudo sobre comércio exterior do agronegócio
 
Está disponível no portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a edição 2012 do estudo “Comércio Exterior da Agropecuária Brasileira: Principais Produtos e Mercados”.
 
Elaborada pelo Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio (DPI) do Mapa, a pesquisa é dividida em seis capítulos e apresenta um panorama sucinto da produção agrícola no Brasil e das vendas externas do país. O comércio exterior é analisado sob três ângulos: setorial, mercados e fornecedores.
 
De acordo com o trabalho, o valor das exportações cresceu em média 17,1% entre 2006 e 2011. A produção anual de grãos aumentou 33% no mesmo período e a participação do agronegócio no PIB brasileiro foi de 22,7% em 2011. A produtividade média por hectare expandiu 27,5% entre as safras 2005/2006 e 2010/2011, enquanto a área plantada aumentou apenas 4,3%.
 
O Brasil também permanece como maior exportador de açúcar, café, suco de laranja, soja em grão e carne de frango e o segundo lugar para carne bovina, óleo de soja e farelo de soja. São Paulo continua sendo o maior produtor agrícola do Brasil e a China se tornou o principal destino das exportações agrícolas brasileiras.
 
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