domingo, 11 de novembro de 2012

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Países adotam táticas diversas para metas de inflação
Brasil, México, Chile e Turquia têm seguido trilhas diferentes na implementação do regime de metas de inflação nos últimos anos, evidenciando as divergências na condução da política monetária no pós-crise. Enquanto México e Chile se mantêm bastante fiéis às regras tradicionais do sistema e preservam o câmbio flutuante, a Turquia optou por uma trilha bem menos convencional desde o fim de 2010 - há uma banda para os juros, que variam de 5% a 9,5% ao ano, e um câmbio que pouco oscila.
O Brasil fica num meio termo. O Banco Central baixou os juros com força desde agosto de 2011, não há preocupação em trazer a inflação a ferro e fogo para o centro da meta, de 4,5%, e o câmbio passou a flutuar num intervalo estreito, entre R$ 2 e R$ 2,10. Mas, diferentemente da Turquia, a inflação no Brasil não tem estourado o teto e a política monetária é bem menos heterodoxa que a do BC turco (ver abaixo).

O México e, principalmente, o Chile têm obtido melhores resultados em termos de inflação e crescimento do que a Turquia, país que vê neste ano uma combinação de alta de preços ainda forte e um crescimento baixo, com elevado déficit em conta corrente. No Brasil, a inflação tem ficado acima do centro da meta, a despeito do fraco crescimento, embora abaixo do teto, de 6,5%.
 
Chefe de pesquisa para mercados emergentes das Américas da Nomura Securities, Tony Volpon diferencia a atuação dos bancos centrais no auge da crise, no momento que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, e nos anos mais recentes. No período de maior turbulência, disseminaram-se estratégias menos ortodoxas, diz ele. Passado o período mais agudo da crise, os BCs de países como Chile e México a voltaram a um modelo "bastante ortodoxo" do regime de metas. "Não há uma grande mudança se você comparar como eles atuam hoje e como atuavam antes da crise."
 
O câmbio permanece flutuante nos dois países, o que ajuda a absorver eventuais choques externos, como oscilações de commodities, diz o chefe de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. No Brasil, lembra ele, há quase seis meses a moeda flutua entre R$ 2 e R$ 2,10.
 
Há diferenças entre a condução da política monetária no México e no Chile. No caso mexicano, a taxa básica, que terminou 2008 em 8,25%, recuou para 4,5% em sete cortes consecutivos ao longo de 2009. Permanece desde julho daquele ano nesse nível, mesmo com a inflação rodando sempre acima do centro da meta, de 3%, e muitas vezes acima do teto, de 4%. No Chile, o juro mergulhou dos 8,25% em dezembro de 2008 para 0,5% ao ano em julho de 2009, nível em que ficou até maio de 2010. Em junho daquele ano passou a subir, batendo em 5,25% em junho do ano passado. Em janeiro deste ano, caiu para 5% e aí ficou, mesmo com a inflação abaixo de 3% no acumulado em 12 meses desde junho.
 
Segundo o analista-sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, "o México definiu um centro do alvo ambicioso há alguns anos, de 3%, mas na prática foi incapaz de ancorar as expectativas de inflação nesse nível". Nos 12 meses até outubro, a inflação "cheia" mexicana ficou em 4,6%, em grande parte devido à alta dos preços agrícolas, que começaram a perder força. O núcleo - que exclui alguns itens como alimentos - está em 3,6% em 12 meses e os serviços, um pouco acima de 2%, o que ajuda a entender por que o BC mexicano não eleva os juros apesar de o índice "cheio" estar acima do teto. Já o crescimento do país neste ano deve ficar um pouco abaixo de 4% - o FMI projeta 3,8%.
 
Mesmo sem elevar os juros desde 2009, o BC do México mantém uma retórica de atenção em relação à trajetória dos preços. "Nos comunicados, o BC sempre se mostra preocupado com a inflação", diz Ramos, que, em comparação, vê com reservas o tom adotado pelo BC brasileiro, que pinta um quadro inflacionário favorável mesmo quando as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) contidas no seu relatório trimestral de inflação não indicam a convergência para os 4,5%.
 
O BC do Chile não tem hesitado em fazer mudanças bruscas nos juros, para cima ou para baixo. País com elevado grau de abertura comercial, o Chile tem uma inflação muito mais influenciada pelo cenário externo, lembra Ramos. A inflação, que bateu em 9,85% nos 12 meses até outubro de 2008, fechou 2009 em queda de 1,5%. Dois anos depois, aumentou para 4,4%, o que levou à reação do BC chileno.
"A instituição tem a maior credibilidade entre os BCs da América Latina. Com isso, os cortes agressivos depois da quebra do Lehman Brothers não preocuparam os mercados", diz Wood, avaliando, contudo, que em 2008 o BC chileno demorou para elevar os juros num quadro em que o choque de preços de alimentos e combustíveis contaminou a inflação.
 
O Chile tem uma combinação bastante saudável de crescimento e inflação. Em 2012, o PIB crescerá 5%, segundo o FMI, e a expectativa é que os preços ao consumidor tenham alta um pouco inferior a 3%.
 
Os três analistas destacam, no caso chileno, o papel da política fiscal para a sustentação do crescimento robusto com inflação sob controle. Ramos lembra que o país gera superávits expressivos em momentos de fartura e eleva gastos no período de vacas magras.
 
Ao comparar o regime de metas de inflação brasileiro com o mexicano e o chileno, os analistas enfatizam outra diferença. Enquanto no Chile e no México o alvo é de 3%, com 1 ponto porcentual de tolerância para cima ou para baixo, a meta brasileira é consideravelmente mais alta - o centro é de 4,5%, com 2 pontos de intervalo.
 
Para Ramos, mesmo com um alvo mais alto, a autoridade monetária brasileira tem se mostrado confortável com um IPCA entre 5% e 5,5%, tendendo a reagir apenas se o indicador se aproximar de 6%. E o mais provável, segundo ele, é que o primeiro instrumento a ser usado pelo BC nessa situação não será a taxa de juros, mas uma eventual valorização do câmbio e medidas fiscais e de restrição ao crédito.
 
Para Wood, vários fatores têm impedido a adoção pelo Brasil de um arcabouço de controle da inflação mais próximo de países como México, Chile e Colômbia. "Eles incluem um maior nível de indexação, uma dívida mais pesada e uma infraestrutura financeira construída num cenário de alta inflação e juros elevados que ainda não foi totalmente desmontada", afirma ele, ressalvando, a importância das mudança nas regras de remuneração da poupança. Gargalos estruturais resultantes de uma baixa taxa de investimento também atrapalham, diz Wood, que destaca a necessidade de contenção dos gastos correntes.



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