sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

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Montadoras aceitam negociar mudança no acordo automotivo com o México




BRASÍLIA - O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, afirmou nesta sexta-feira, 3, que o setor aceitaria negociar uma mudança no acordo automotivo com o México.

"Viemos manifestar que achamos o acordo muito importante para o nosso País. Confirmamos a necessidade de manter esse acordo", disse, após reunião de executivos do setor automotivo com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

Belini confirmou que, na reunião, o governo disse estar em um processo de reavaliação do acordo. "Isso nos foi confirmado", resumiu. "Como tem um processo de reavaliação, não tem nada ainda definido. A sugestão da Anfavea é continuar. Aceitamos inclusive estudar outros termos", prosseguiu.

Belini confirmou que a possibilidade de uma revisão do acordo com o México foi tocada, mas ele informou que não houve uma conclusão sobre o tema. "Não entramos em detalhes técnicos. Agora vamos aguardar o governo fazer as suas avaliações e depois vamos conversar novamente", relatou.
Esses encontros, de acordo com Belini, fazem parte do processo de reavaliação, mas ele enfatizou que os detalhes precisam ser estudados gradativamente. "Hoje existe um desequilíbrio na balança comercial, e é isso que está preocupando o governo", avaliou.

Perguntado sobre a possibilidade de incluir também ônibus, caminhões e utilitários no acordo com o México, o presidente da Anfavea disse que já foi vista uma movimentação nesse sentido do lado do México. "Isso poderia ajudar (a balança comercial)", analisou.

Belini voltou a dizer que a associação avalia como importante a manutenção do acordo, mas que o setor aceita também algumas alterações, que podem vir a ser discutidas. "Quando tem acordos bilaterais, tem de ver que existem importações e exportações. De um lado, temos um superávit com a Argentina e, de outro, um déficit com o México, mas já foi ao contrário. Temos períodos cíclicos", salientou.

Bastidores. O fraco desempenho das exportações levou o governo a elevar o tom nas negociações com o México para ampliação de um acordo comercial. Nos bastidores, auxiliares da presidente Dilma Rousseff chegam a ameaçar o país com o rompimento do tratado automotivo, em vigor desde 2002, como revelou a colunista Sonia Racy, em seu blog, no portal estadão.com, na terça-feira.

O principal motivo para a impaciência dos negociadores brasileiros é a relutância do governo mexicano em permitir maior acesso a seu mercado. Desde 2009, o Brasil negocia um amplo acordo com o México, que abrange comércio, investimentos, serviços e compras governamentais. "A lógica é que as duas maiores economias da região tem de se integrar", disse o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento.
O chanceler Antonio Patriota abordou o tema com a colega mexicana Patricia Espinosa por duas vezes recentemente: durante a visita dela ao Brasil, em dezembro, e na semana passada quando se encontraram no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Patriota defende o diálogo, mas sua posição esbarra na visão do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que prefere ações mais duras, como a suspensão do acordo automotivo, para pressionar os mexicanos.

A decisão do governo Dilma em "anular" o acordo causou um enorme reboliço na diplomacia dos dois países. O próprio presidente mexicano, Felipe Calderon, telefonou para Dilma, que estava em Cuba para pedir que o Brasil não rompesse o acordo.

Diplomacia. O Itamaraty entrou na negociação e tenta colocar panos quentes na polêmica. Ele defende a criação de duas comissões, uma mexicana e outra brasileira, para estudar o assunto. A tentativa de obter um consenso esbarra na pressa do governo brasileiro em decidir a questão. O Brasil precisa "avisar" o México que vai "anular" o acordo com 14 meses de antecedência. O argumento de Calderon para tentar convencer Dilma a manter o acordo foi simples: enquanto o Brasil tinha um superávit comercial na balança automotiva com o seu parceiro, o México não quis romper o acordo. Agora que a situação se inverteu o País não quer mais cumprir as premissas.

Estratégia. As principais montadoras do Brasil têm fábrica no México e trazem de lá veículos sem pagar Imposto de Importação. "Quando o acordo foi firmado, as montadoras definiram uma estratégia conjunta de produção entre as fábricas do Brasil e México. O que elas produzem lá, não fazem aqui", disse o diretor do Centro de Estudos Automotivos, Luiz Carlos Mello.

Hoje, produzir no México é mais competitivo que no Brasil por dois motivos: o câmbio mais vantajoso e a maior proximidade com o mercado americano. "As fábricas ficam do lado dos EUA e podem exportar para o Brasil sem pagar imposto", disse o consultor Alexandre Lira.

O rompimento do acordo está em linha com outra medida protecionista tomada pelo governo em setembro - de elevar a taxação dos carros importados. O objetivo era motivar as montadoras a produzirem no Brasil.

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