sexta-feira, 27 de julho de 2012

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É possível discutir a qualidade do que se produz no Vale do Submédio São Francisco?

João Ricardo F. de Lima[1]

A discussão sobre a qualidade de um produto é até certo ponto óbvia. Qual consumidor quer comprar um produto que não tenha qualidade? A qualidade é condição fundamental em qualquer tipo de bem produzido. Em mesa redonda realizada na FENAGRI 2012, com compradores internacionais e nacionais e os produtores, o que mais foi enfatizado é a questão da qualidade.
O que deve ficar claro é que o Vale do Submédio São Francisco (de acordo com a Indicação de Procedência) sabe produzir uma fruta de excelência, reconhecida nacional e internacionalmente. O que os produtores têm dificuldade é para vender estas frutas. A venda é uma arte, da mesma forma que é produzir uma manga com a qualidade da que vai para a Europa, por exemplo. O quanto se tem de investimentos em capital, pesquisas, trabalho, para se produzir um fruto daquele? São muitos recursos envolvidos e os benefícios disto não estão sendo apropriados pelos produtores, pois toda a eficiência da produção é suplantada pela ineficiência na comercialização.
De acordo com a definição de lucro como a diferença entre a receita total e o custo total, são três fatores que afetam o lucro de uma atividade econômica: o primeiro é o preço da venda, o segundo é o quanto se produziu e o terceiro são os custos de produção (soma dos fixos e variáveis). Todos os itens são importantes, não existe uma ordenação. As duas primeiras variáveis são relacionados à receita total e a último ao custo total. O lucro vai ser a diferença entre a receita e os custos. Um problema é que normalmente se enfatiza apenas a produção e os custos, que de certa forma o produtor tem mais controle. Os preços são definidos pelo “mercado”.
O produtor sabe o quanto produz e oferta. E gasta muita energia nesta parte que corresponde a produção. Com relação aos custos, em geral, os produtores não se preocupam quando o cenário está favorável. Só passam a se preocupar e a procurar soluções quando a situação está desfavorável, como ocorre nos dias atuais. Por outro lado, os produtores não tem controle sobre o preço de venda do seu produto. O problema é que não adianta monitorar os custos, procurando reduzi-los o máximo possível, produzir respeitando os inúmeros protocolos de qualidade e jogar todo o esforço fora vendendo as frutas por um preço muito baixo.
A forma de comercializar hoje é totalmente maléfica ao produtor individual, pois este não tem poder de barganha. É o que eles mesmos chamam de leilão invertido. No mercado externo, o produtor entrega a mercadoria, mas não sabe quanto irá receber pela mesma. O comprador internacional informa o resultado após a venda do mesmo. Esta informação às vezes demora bastante para chegar.
O que a região precisa? 1) União dos produtores para se fortalecerem e aumentarem o poder de barganhar os preços; 2) Identificar as lideranças que devem fazer gestões junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para que se faça uma política agrícola específica para a região. Não só política de crédito, mas também de planejamento, preços e renda mínima, apoio a escoamento de produção e busca de novos mercados.
É preciso lembrar que o Vale do Submédio São Francisco está no meio do semiárido, onde se encontra a maior parte das famílias pobres do país e que, graças aos investimentos públicos realizados e o empreendedorismo dos produtores, as receitas de exportação com uva e manga geraram mais de 270 milhões de dólares em 2011, além dos empregos diretos, indiretos e efeitos multiplicadores no setor de serviços, contribuindo para redução da pobreza nacional.


[1] Doutor em Economia Aplicada – UFV. Pesquisador A da Embrapa Semiárido. Prof. Titular na FACAPE-Petrolina e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UFT-Palmas/Tocantins.

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