quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cooperativismo

Cooperlimpo, vitória da intercooperação no interior de São Paulo
               
Cooperlimpo, vitória da intercooperação no interior de São Paulo
 
A Cooperativa dos Coletores de Materiais Recicláveis de Bebedouro (Cooperlimpo), fundada em 2008 no município de Bebedouro, a 380 km ao norte da capital paulista, é um bem-sucedido exemplo de intercooperação resultante do apoio financeiro do Fundo de Investimento Social e Cultural (FISC) e do Serviço de Aprendizagem do Cooperativismo em São Paulo (Sescoop/SP).

A história e as realizações dessa cooperativa são apresentadas por Maria Madalena Fernandes Rocha, diretora administrativa da Sicoob Credicitrus e profissional diretamente envolvida com a evolução da Cooperlimpo desde sua constituição.

Como surgiu a Cooperlimpo?


Ela nasceu de um sonho de Leopoldo Pinto Uchôa, um dos fundadores da Sicoob Credicitrus, em 1983, e seu diretor-presidente até abril de 2008, quando faleceu. Ele sempre manifestou o desejo de patrocinar a criação de uma cooperativa de coletores de resíduos recicláveis, preocupado com a situação de informalidade, insalubridade e baixa dignidade das pessoas que trabalhavam no recolhimento desses materiais. Dizia que o valor desse trabalho era “inestimável, porém, pouco reconhecido e até desprezado”.

Por que a Cooperlimpo é um exemplo da intercooperação?
No final de 2008, com o apoio financeiro do Fundo de Investimento Social e Cultural (FISC), mantido pela Coopercitrus e pela Sicoob Credicitrus (ambas pertencentes ao mesmo grupo e presididas por Leopoldo Pinto Uchôa até abril daquele ano), esse sonho foi realizado, em aliança com outras três cooperativas sediadas em Bebedouro: Unimed, Uniodonto e Cotram (de trabalho). A iniciativa contou com o apoio da Prefeitura Municipal, que cedeu à nova cooperativa um galpão, um caminhão e um motorista, e do Serviço de Aprendizagem do Cooperativismo em São Paulo (Sescoop/SP), que ministrou aos 24 coletores que fundaram a Cooperlimpo um curso sobre cooperativismo e gestão de organizações do setor. É importante salientar que essa nova cooperativa também deve sua existência ao empenho do atual diretor-presidente da Credicitrus, Raul Huss de Almeida, que é um grande entusiasta das possibilidades da intercooperação.

O Fundo de Investimento Social e Cultural Coopercitrus/Credicitrus (FISC) foi criado, em 2005, devido à necessidade dessas cooperativas em adotar um mecanismo que lhe permitissem atuar como instituição de fomento e apoio ao Terceiro Setor. Trata-se de um Fundo de Investimento, o que quer dizer que ele pretende atuar como apoio a projetos específicos das Entidades Sociais do Terceiro Setor, nas regiões onde as Cooperativas possuem estrutura comercial ou em áreas sob sua e influência. De que maneira o apoio do FISC foi importante para a nova cooperativa de Bebedouro, a Cooperlimpo?

O FISC deu e dá todo o respaldo necessário para as atividades da Cooperlimpo, junto com as Cooperativas parceiras: Unimed, Uniodonto, Cotram e a Prefeitura Municipal de Bebedouro. O projeto saiu do papel, deu os seus primeiros passos e caminha para a sua consolidação e seu crescimento. O sonho de contribuir para a transformação da sociedade, da construção de um mundo mais justo e solidário, valorizando o ser humano, idealizado pelo grande líder Cooperativista Leopoldo Pinto Uchôa, materializou-se nas ações do FISC junto à Cooperlimpo, deixando para o município todos os frutos da força de transformação do movimento cooperativista em parceria para uma causa nobre.

De maneira prática, como acontece a atuação conjunta dessas cinco cooperativas?

As cinco cooperativas atuam em conjunto com o objetivo de “incubar” a Cooperlimpo até que tenha condições de sustentar-se. A Sicoob Credicitrus, por intermédio do FISC, foi responsável pela estruturação administrativa da nova cooperativa. Contratou para geri-la um profissional com experiência em reciclagem de resíduos, e responde até hoje por seu salário e demais encargos. Assumiu os custos de sua contabilidade externa e, mais recentemente, contratou uma assistente social para atuar no processo de inclusão social dos cooperados. Fornece mensalmente uma cesta básica a cada cooperado (atualmente são aproximadamente 30), doou vários equipamentos à nova cooperativa, incluindo um caminhão, uma prensa-enfardadeira, uma esteira rolante e uma máquina picotadeira e ainda paga o aluguel das instalações que ocupa na região central da cidade. Por sua vez, a Unimed proporciona assistência médico-hospitalar aos cooperados, da mesma forma que a Uniodonto presta assistência odontológica a todos.

Quais os resultados apresentados?

A Cooperlimpo tem registrado números crescentes de coleta. Em 2009, foram 236 toneladas (com média de 23 toneladas mensais). Em 2010, consolidou sua carteira de clientes e praticamente triplicou o volume coletado, que excedeu 780 toneladas (mais de 65 toneladas por mês). E as perspectivas para 2011, são de ir além de mil toneladas.

Que resultados podem ser somados a esses números?

Os números são importantes, mas frios. O que realmente conta é o benefício que significam. A Cooperlimpo está restituindo a cidadania e a autoestima a pessoas que estavam à margem da sociedade e que agora têm diante de si novas perspectivas. Todos trabalham com uniforme, usam equipamentos de proteção individual e, principalmente, são respeitados pela comunidade. Alguns deles já voltaram a estudar. Nosso desejo é que esta cooperativa se transforme em um modelo de negócio com amplo alcance social que possa ser multiplicado em outros municípios da região em que nossas cooperativas atuam.

Entre as conquistas, a sede pode ser colocada como uma das principais?

Em maio de 2010, inauguramos a nova sede e, em novembro, uma nova unidade, para continuar a crescer e fazer a diferença na vida de seus cooperados e de toda a comunidade. A inauguração da sede marcou um novo começo, uma nova conquista, pois passou a ter um espaço amplo, adequado e equipado para realizar seu trabalho com dignidade e ainda mais qualidade, uma nova estrutura, fruto da credibilidade que conquistou junto à comunidade e do apoio constante do FISC e das cooperativas de Bebedouro. Esse espaço, cedido pela prefeitura, tem área de mais de 700 metros quadrados, que permitem que o projeto social e ambiental da cooperativa possa avançar. Há espaço próprio para as refeições e para o trabalho administrativo, além de sanitários adequados. Tudo para proporcionar mais qualidade ao trabalho e ao dia a dia dos cooperados. Em paralelo, adquiriu uma nova prensa com capacidade de prensagem de até 5.000 quilos por dia. Com o mesmo recurso do FISC, também foi adquirida uma empilhadeira hidráulica, dinamizando o serviço e auxiliando no carregamento do material para comercialização.

Quais as últimas conquistas da Cooperlimpo?

Desde novembro de 2010, está funcionando o novo PEV (Posto de Entrega Voluntária de Materiais Recicláveis) da Cooperlimpo, na área central de Bebedouro. Com o novo ponto, a Cooperlimpo aumentou a quantidade de material coletado, por meio de parceria com outros coletores autônomos e empresas. Além disso, qualquer pessoa pode entregar seus recicláveis devidamente separados diretamente no PEV. Além da compra do material coletado, o diferencial fica por conta do trabalho de promoção humana realizada, oferecendo uniformes, carrinhos de coleta padronizados, equipamentos de proteção individual e recolhimento do valor dos encargos sociais e cesta básica, o que trará maior segurança ao trabalho do coletor associado à Cooperlimpo. Também serão desenvolvidas ações educativas, com treinamentos aos novos membros. No primeiro mês de atividades, a cooperativa já sentiu aumento na coleta, tanto pela participação de novos coletores, como doação voluntária de pessoas da comunidade. Como forma de viabilizar o posto e ainda aumentar o número de cooperados, a meta da Cooperlimpo é agregar 10 novos coletores. Quatro novos coletores já foram contratados, a fim de aumentar os resultados da cooperativa, bem como proporcionar resgate de autoestima e esperanças aos colaboradores, como aconteceu com outros cooperados.

Quais as ações programadas?

Os planos da Cooperlimpo vêm aumentando, assim como sua atuação na cidade: em breve os coletores trabalharão com carrinhos personalizados, identificando o trabalho da cooperativa nos bairros da cidade e proporcionando mais comodidade ao trabalho – o que também deve render aumento na quantidade de material coletado. A cooperativa já vislumbra a possibilidade de implantar novos PEVs em outros bairros da cidade. A cooperativa também está articulando parceria com Patrulha Ecológica, para inserir atividades culturais e artísticas no PEV, como oficinas de artesanato, a fim de que mais pessoas conheçam o trabalho que ali é desenvolvido.

Fonte: Encontro Cooperativos em 25/10/2011

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