quarta-feira, 23 de maio de 2012

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Intervenção no câmbio também deve ser foco de BCs

O Brasil e o resto da América Latina deveriam complementar os seus regimes de metas de inflação com políticas explícitas de intervenção no câmbio. Mas não devem cair na tentação de fazer do crescimento econômico um dos mandatos dos bancos centrais. A recomendação é do Comitê Latino Americano de Assuntos Financeiros, um grupo de economistas independentes da região.

Em declaração divulgada ontem, ao fim de uma reunião em Washington, eles trataram do dilema enfrentado em vários países da região: como manter a credibilidade num momento em que os bancos centrais são pressionados a agir em outras frentes além do controle da inflação. "Intervenções no câmbio não representam nenhuma contradição com o regime de metas de inflação", afirma o ex-vice-ministro de finanças da Argentina, Pablo Guidotti, que integra o comitê.

A recente crise financeira colocou em xeque a visão de que o melhor que os BCs podem fazer pela prosperidade econômica é perseguir um único objetivo, inflação baixa e estável, com um único instrumento, a taxa de juros. Estados Unidos e Europa tinham inflação baixa, mas isso não impediu a crise.

Hoje, os bancos centrais são chamados a perseguir objetivos como estabilidade financeira, crescimento econômico próximo ao potencial e menor volatilidade cambial. Também usam vários instrumentos, como intervenções no câmbio e regulação financeira. Mas ficou mais difícil saber qual é a real prioridade dos bancos centrais.

"Os bancos centrais podem ter ganhos de credibilidade se assumirem explicitamente suas intervenções no mercado de câmbio", aposta Guidotti. Para ele, isso significa reconhecer explicitamente o uso de um instrumento, as intervenções no mercado de câmbio, para atingir um objetivo a mais, a redução da volatilidade da cotação do dólar. Mas, frisa ele, os bancos centrais não devem ter uma meta para a cotação do dólar.

No Brasil, o BC intensificou as suas intervenções no câmbio, contribuindo para a desvalorização do real - o que levou alguns analistas econômicos a especular se a autoridade monetária não teria deixado a inflação um pouco em segundo plano. Um outro integrante do comitê, o economista brasileiro Pedro de Carvalho Mello, coordenador internacional da FGV Management, afirma que o Brasil não tem meta para o dólar, mas o padrão de intervenções sempre levanta dúvidas entre os analistas econômicos. "Se você compra dólar quando o câmbio cai a um certo valor e vende quando sobe, surge a questão se há uma banda."

O comitê também recomenda que os países se abstenham de ter um mandato explícito de crescimento. No mundo, há duas tradições. Num lado, o Federal Reserve (banco central dos EUA) tem dois mandatos principais, inflação e pleno emprego. De outro, no Banco Central Europeu (BCE), o único mandato é a inflação baixa.

Na América Latina, incluindo o Brasil, a prática mais comum é os bancos centrais terem mandato explícito apenas para inflação, ainda que a baixa volatilidade do crescimento econômico seja sempre um componente implícito nas decisões sobre juros. O comitê acha que não seria prudente adotar mandatos para crescimento econômico. "Isso poderia ser perigoso e reintroduzir um viés inflacionário", afirma o documento divulgado pelo grupo de economistas. "Essa declaração tem em mente sobretudo o Brasil", afirma a economista mexicana Liliana Rojas-Suarez, ex-funcionária do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atualmente pesquisadora do Center of Global Development, um centro de estudos de Washington. O BC brasileiro nunca indicou ter uma meta de crescimento. Outras áreas do governo, como o Ministério da Fazenda, tem enfatizado o desejo de garantir níveis mínimos de expansão do PIB.

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