quarta-feira, 9 de maio de 2012

Economia

Poder de mercado e diversificação para minimizar riscos no agronegócio

Este artigo tem o objetivo de debater sobre duas questões importantes para quem está inserido em alguma atividade do agronegócio: as relações entre produtor versus atacadista e o papel da diversificação para reduzir o risco total. Na teoria econômica existe um ramo dedicado exclusivamente ao estudo de estruturas de mercado oligopolizadas, denominado de economia industrial. O sentido de industrial não está relacionado ao setor “secundário” da economia e sim ao que se considera como indústria na microeconomia, um conjunto de firmas com correlação técnica-produtiva que fornecem para o mesmo mercado. Além do oligopólio, existem outras estruturas de mercado, como a concorrência perfeita e o monopólio. Na livre concorrência existe um grande número de compradores e vendedores de forma que nenhum possui condições de ditar os preços. Ao contrário, no monopólio (monopsônio) existe apenas 1 empresa vendedora (compradora) que define o preço do mercado. Assim, são dois extremos quando se estuda estruturas de mercado. O oligopólio (oligopsônio) é uma estrutura intermediária, possuindo poucas empresas vendedoras (compradoras), na qual os preços praticados são menores do que no caso do monopólio, mas maiores em comparação ao de livre concorrência.
Por poder de mercado se entende a “habilidade” das firmas para influenciar o preço do produto que vende ou compra. Existe uma grande quantidade de estudos empíricos que visaram analisar o poder de mercado em vários setores do agronegócio. No geral, os resultados indicam que poder de mercado dos produtores é muito baixo e os preços são influenciados pelos atacadistas. No Vale do São Francisco existe uma quantidade muito grande de pequenos produtores, que isoladamente não possuem condições de influenciar os preços. Do outro lado, se defrontam com um número reduzido de compradores que exercem seu poder de mercado para definir o preço de compra.
O exercício do poder de mercado gera diversas consequências, relacionadas com perda de bem estar, desde que este poder não seja socialmente aceitável. Um efeito do poder de mercado é a transferência de renda dos produtores vitícolas para os atacadistas/atravessadores. Ao se acumular durante anos, esta transferência de renda altera a distribuição da riqueza na região, levando a perda da capacidade financeira dos produtores e aumento da renda dos atacadistas. Isto explica em parte a maior capitalização dos atravessadores e a cada vez pior condição financeira dos produtores.
Ao se deparar com estas condições, uma possibilidade é buscar o apoio governamental para que desenvolva algum tipo de política que corrija as distorções do mercado. Em artigo anterior, intitulado “A necessidade de uma política de preços mínimos no agronegócio das uvas finas de mesa” foi demonstrado que no Governo Federal existe uma política de garantia de preços mínimos (para diversos produtos, mas não para uva de mesa), gerando uma alternativa de venda aos produtores, reduzindo a dependência dos atravessadores. A outra opção é se unir para fortalecer. Para isto, ao invés de cada um buscar agir individualmente no momento de venda de suas uvas, a melhor estratégia é reunir uma grande quantidade de forma que se tenha maior poder de barganha na negociação com o comprador. Isto não seria uma novidade para a região, que já possuiu uma organização de produtores-exportadores, a Brazilian Grapes Marketing Association (BGMA) e conta com profissionais capacitados e com experiência em exportação de frutas.
O segundo aspecto a que se refere este artigo é a diversificação produtiva para minimizar riscos. Segundo a Teoria do Portfólio, desenvolvida pelo economista Harry Markowitz e publicada em 1952, é possível obter retornos iguais, mas com riscos menores, diversificando os investimentos ao invés de concentrar em apenas uma atividade. Desta forma, os produtores precisam ter múltiplas fontes de renda, oriundas de mais de uma atividade. Para isto existem diversas possibilidades, algumas delas já executadas por alguns produtores: a) produzir variedades de uvas diferentes; b) vender no mercado externo para destinos diferentes; c) produzir para o mercado externo e também para o mercado interno, considerando que não necessariamente o mercado interno deve consumir o que não tem condições de ser exportado. No Brasil existem muitas famílias com renda suficiente para comprar uma uva de qualidade comprovada e que tem um preço mais elevado; d) diversificar as frutas produzidas, não se especializando como produtor de manga ou de uva apenas, por exemplo. O importante é ter receita na maior parte do ano; e) Diversificar com produção animal, a exemplo da frutiovinocultura, ou com alguma outra atividade, até mesmo não agrícola.

Por João Ricardo Ferreira de Lima
Doutor em Economia Aplicada – Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador A da Embrapa Semiárido. Prof. Titular na FACAPE-Petrolina e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UFT-Palmas/Tocantins.

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