quarta-feira, 9 de maio de 2012

Economia

A necessidade de uma política de preços mínimos no agronegócio das uvas finas de mesa

Este artigo é a continuação de uma reflexão analítica sobre a atual condição da viticultura no Vale do São Francisco e está mais relacionado com os preços. Na equação que define a rentabilidade, o preço do produto e a quantidade vendida estão diretamente relacionados com o lucro e os custos inversamente relacionados.
Com base na teoria econômica, em mercado de concorrência perfeita os preços e as quantidades de equilíbrio são definidos pela lei da oferta e demanda. Entretanto, no caso dos produtores agrícolas, a estrutura de mercado que estão inseridos é diferente. De um lado um setor oligopolista, dominado por um pequeno número de empresas vendedoras dos insumos necessários à produção e que cobram preços acima do que seria em concorrência perfeita. Na outra ponta, um oligopsônio em que um número reduzido de empresas (tradings) comercializam as uvas no mercado internacional e pagam ao produtor um preço menor do que o obtido no caso de livre concorrência.

As tradings, que forma um oligopsônio, tem a função de facilitar o fluxo de transações no mercado internacional, atuando nas exportações e também importações. Segundo informações da Folha de São Paulo do dia 30/01/2012 (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1041444-tradings-representam-mais-de-11-de-tudo-o-que-brasil-exporta.shtml), entre 2005 e 2011, as tradings exportaram cerca de US$ 30 bilhões.

A maior desvantagem dos produtores de uva de mesa na comercialização é entregar sua mercadoria sem saber quanto receberá por ela. Além do grande período custeando a atividade sem entrada de receita, ocorre a colheita e a entrega do produto para ser encaminhado para o mercado externo. Deste período até o momento do recebimento do relatório e a informação do quanto o produtor irá receber líquido no bolso pode levar até 5 meses em alguns casos. O risco nesta situação cresce de forma exponencial. O preço é componente fundamental para definir se haverá lucro ou prejuízo com a atividade.

Existem algumas possibilidades para o produtor: a) não exportar; b) não usar as tradings e tentar fazer exportação direta; c) conseguir um comprador que garanta um preço mínimo pela fruta. Sobre a primeira possibilidade, é viável desde que consiga vender no mercado interno. Na média, consegue-se hoje preços melhores no mercado interno do que no externo, dada a demanda e a quantidade ofertada. Contudo, se não houver planejamento e ocorrer um excesso de oferta no mercado interno, os preços cairão e isto poderá ser extremamente desvantajoso para o produtor. Além disto, no mercado interno também existem os atravessadores e estes, da mesma forma, buscam maximizar seus lucros (comprar o mais barato possível e vender o mais caro possível). Com relação à segunda a possibilidade, para um conjunto de produtores não é viável, dado que dependem dos adiantamentos em dinheiro para poder custear a atividade, por não estarem capitalizados e, consequentemente, sem acesso ao crédito bancário oficial. Além disto, não é tarefa simples exportar diretamente, existe a necessidade de buscar encontrar compradores, a burocracia do processo, etc. A terceira possibilidade é a garantia de um preço mínimo para a uva proporcionado por alguns compradores.

Por João Ricardo Ferreira de Lima
Doutor em Economia Aplicada – UFV. Pesquisador A da Embrapa Semiárido. Prof. Titular na FACAPE-Petrolina e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UFT-Palmas/Tocantins.

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